A verdade é que, ao tentar circular entre dois mundos, Cleitinho tem desagradado “gregos e troianos” e pode tranforma-lo em persona no grata

O velho ditado segue atual: “peixe morre pela boca”. E, o caso mais recente, do senador Cleitinho (Republicanos), mostra isso. As últimas declarações dele parecem ter provocado exatamente isso, a fúria do clã Bolsonaro.
Nesta quinta-feira (24/10), o deputado federal licenciado – para fazer lobby contra o Brasil nos Estados Unidos – Eduardo Bolsonaro (PL-SP) disparou: foi “imprudente darmos a vaga do Senado” a Cleitinho. A crítica é uma resposta direta às falas do senador mineiro, natural de Divinópolis, que repercutiram nacionalmente, em proporção ao seu alcance nas redes sociais.
O desgaste começou após uma entrevista de Cleitinho a uma rádio, em que descartou apoiar Eduardo, afirmando que ele “está fora do Brasil” – o que faz todo sentido. Na mesma conversa, classificou Michelle Bolsonaro (PL) como “um bom nome”, mas para o Senado, e sinalizou que não necessariamente apoiará o candidato à Presidência indicado por Jair Bolsonaro (PL) em 2026.
A escalada de tensão não parou aí. Em entrevista, à Rádio Auriverde Brasil, Cleitinho afirmou ter “pago sua dívida” ao ex-presidente, referência ao apoio recebido em 2022. Entre os bolsonaristas, claro, a declaração soou como ingratidão.
O ex-ministro Mario Frias (PL-RJ) reagiu, afirmando que “gratidão verdadeira nunca prescreve”. Outro disparou que, sem Bolsonaro, Cleitinho sequer teria sido reeleito deputado estadual.
Em outra entrevista, desta vez ao Metrópoles, Cleitinho classificou como “imprudente” Eduardo Bolsonaro se lançar candidato à presidente estando fora do país. Além disso, que ele perderia para o Lula.
Cleitinho pede desculpas a Bolsonaro etenta conter incêndio
Diante da repercussão negativa, o senador tentou conter o incêndio. Publicou um vídeo nas redes sociais pedindo desculpas e atribuiu a polêmica a cortes de edição que teriam distorcido sua fala. Típico dele. De fato, Cleitinho reconhece a gratidão, mas o tom da entrevista também deixou claro que ele não pretende se curvar às vontades do clã bolsonarista em 2026.
A verdade é que, ao tentar circular entre dois mundos – direita e esquerda, Cleitinho tem desagradado “gregos e troianos”. Quer se firmar como o nome da direita ao governo de Minas, mas sem fechar as portas para o eleitorado de centro e centro-esquerda — que, sabe bem, será fundamental numa disputa estadual. Ele busca se eleger “pela vontade popular” antes mesmo das convenções, para então impor sua candidatura aos partidos.
Mas o recado da cúpula bolsonarista é claro: em política, quem tenta ficar em cima do muro costuma cair de lá. E Cleitinho ainda depende, em parte, da estrutura e dos votos do ex-presidente para viabilizar uma candidatura ao Palácio Tiradentes.
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Mateus Simões sobre Cleitinho: Candidato popular
Em Minas, a disputa pela direita promete ser acirrada. Nikolas Ferreira (PL) aparece entre os nomes cotados, enquanto o vice-governador Matheus Simões (PSD) tenta aproveitar o desgaste para empurrar Cleitinho para escanteio. Em entrevista ao O Globo, Simões disse: “Ele é um candidato popular, não de direita. Chutou a foto do Bolsonaro, defende o fim da escola 6×1, não quer responsabilidade fiscal e é a favor de movimentos sindicais em Minas.”
A trajetória de Cleitinho começou pela retórica do “antipolítico”, ainda vereador de Divinópolis. Entre deputado e senador, ele se misturou a eles. Mas não se pode negar que, em cada fase, soube ler o sentimento popular e ajustar o discurso. Do apoio a Lula – em discursos quando ainda vereador – ao alinhamento com Bolsonaro – já quando deputado. Ele sempre navegou conforme os ventos da opinião pública.
Cleitinho pode até ter conquistado a direita, mas, como disse o vice-governador, é sobretudo um candidato popular. Sabe se comunicar com o povo, isso o coloca à frente em várias pesquisas. No entanto, sem o apoio partidário, dificilmente avança. Quem conheceu Cleitinho vereador, lembra bem dele dizer que partido não manda no mandato dele.
A grande dúvida é: se romper de vez com o bolsonarismo, conseguirá Cleitinho sustentar uma candidatura apenas com a força das redes e da rua? Os bolsonaristas mais fiéis já o enxergam como traidor. Aos de centro, soa oportunista. E à esquerda radical, claro, continua sendo persona non grata.
Até as convenções, muitas nuvens vão mudar. Este é apenas um primeiro desgate que já deixa uma lição evidente: ele está cercado pelos amigos de ontem e pelos adversários de sempre.



