Por Rodrigo Dias
E nesses dias tão estranhos fica a poeira se escondendo pelos cantos. Esse é o nosso mundo. O que é demais nunca é o bastante. Ninguém vê onde chegamos.
O trecho acima é da canção “O Teatro dos Vampiros”, de autoria de Renato Russo e sua Legião Urbana. A canção, gravada há 26 anos, remete a uma desilusão da vida cotidiana. Um recorte do Brasil daquele tempo que, aos olhos do poeta, vivia num tom de desesperança.
Anos depois, a situação permanece. Em grande parte o povo brasileiro é refém de si mesmo e de um sistema social que pouco inclui, protege e ascende. Nos dias atuais as diferenças sociais estão cada vez mais evidentes e com poucas perspectivas de mudanças, para melhor, no médio prazo.
Para piorar, o Brasil de hoje está menos tolerante e polarizado. Compramos discussões que não são nossas. Elas são instituídas na pauta do dia e migram do mundo virtual para o real. O que acaba por constituir vários brasis num mesmo Brasil. Neles, a razão se perde.
E os que poderiam nortear um caminho de mudança estão enlameados. Perderam a castidade da moral e se preocupam, mesmo, é em salvar a própria pele e o povo, nós, que se foda.
Sim, nesse sistema caótico os assassinos estão livres. Nós não estamos.
Brasil e crise se conjugam em uma frase só. Herança de uma colonização de exploração. Somos dilapidados, massacrados e escravizados há mais de 500 anos.
Em todo esse período os ciclos mudam. Mudam os personagens, mas a ação é a mesma: de assalto, usurpação e a concentração da riqueza na mão de poucos. Vive-se num glamour fedido. Por vezes com gosto de bala perdida e sangue.
Num país de retórica, a justiça é discurso para as massas e a lei não protege ninguém. A não ser que se tenha alguns vinténs para sustentar o que é seu, por direito.
A riqueza que nós temos ninguém consegue perceber e de pensar nisso tudo. Eu, homem feito tive medo e não consegui dormir. Bem dizia Renato. Voltamos a viver como há dez anos atrás e cada hora que passa envelhecemos dez semanas.
Esse é o nosso mundo (Brasil). Nossa história não se repete… De tão igual nos tempos, parece não ter fim.