Por Rodrigo Dias
Criamos ambientes. Ao criá-los queremos controle. Ter nas mãos as rédeas. Evitar surpresas, principalmente as indesejáveis. Aquelas que desajustam o que está compartimentalizado, no seu lugar.
Sendo assim, criar ambientes é querer a estabilidade, a “segurança” tão perseguida nos dias atuais. Construir ambientes requer esforço. É obra de engenharia que começa em nós.
Mesmo depois de tudo definido e traçado, há os fatores externos que poderão comprometer o que fora planejado, ou seja, o ambiente do outro impacta no meu. Por mais estruturado que esteja o meu ambiente, em menor ou maior intensidade ele dependerá do outro em algum grau de relação.
Logo, construir ambientes estáveis é um exercício coletivo. Raciocínio que remonta um argumento antigo: ninguém é uma ilha. Desta forma, não há como um indivíduo criar um ambiente saudável pra si sem desejar o mesmo para os que o rodeiam.
Quando essa regra tão trivial é ignorada, a sociedade entra em colapso. Há, a partir daí, espaço para todo tipo de sorte, e neste caso para manter-se de pé num ambiente de desajuste cada um pode se sentir no direito de criar suas próprias regras de conduta. Caos.
O homem é a somatória das experiências acumuladas ao longo do tempo. Experiências cultivadas em períodos espinhosos, necessariamente, não vão tornar o homem imune à dor, mas podem estimulá-lo a provocá-la.
A irracionalidade compele a razão. Cria-se, então, um ambiente de subterfúgios para justificar os atos. É o que ocorre com quem mata para cobrir a fome ou também com aquele que joga, corrompe e paga para estar no poder. Permanecendo, assim, imune às consequências dos seus desajustes.
Criamos ambientes, isto é um fato. Estamos dentro de redomas e procuramos proteção. Com sucesso, conseguimos escapar do externo que atormenta. Mas em grande parte das vezes o problema é mais complexo.
Por maior que seja nossa capacidade de criar ambientes – vivendo numa espécie de terrário em que tudo parece estar perfeito e protegido – não aprendemos a fugir do que somos.
Daqui a pouco o que parecia perfeito carecerá de um novo ambiente, de fuga. Sobreviver além da nossa redoma requer tolerância e espírito do que é coletivo.
A estabilidade interna pode vir daí.
Por que não?