Toda mulher separada é fácil. Tá carente. É só chegar e papar. Mulher separada é desiludida afetivamente, resta-lhe o consolo do corpo e por não conseguir nada melhor, ela que não reclame da indelicadeza dos mais machistas que enxergam nela só a genitália feminina.
As aparências são só aparentes. Elas enganam e fazem ter uma leitura errada das pessoas. Às vezes se compra gato por lebre e se leva para casa algo que não queria, mas porque insistiu em comprar um livro pela capa.
Apesar dos clichês, a afirmação acima não traz novidade. Destaca uma realidade que a cada dia é mais evidente. Fruto de uma sociedade essencialmente superficial, apegada a rótulos.
Um cara negro da favela, antes, era sinônimo de bom de bola ou sambista. O mesmo cara negro hoje é visto como um marginal. Escória de uma sociedade. Com pouco ou quase nada a acrescentar.
Toda mulher separada é fácil. Tá carente. É só chegar e papar. Mulher separada é desiludida afetivamente, resta-lhe o consolo do corpo e por não conseguir nada melhor, ela que não reclame da indelicadeza dos mais machistas que enxergam nela só a genitália feminina.
Falo mentira? É assim, em menor ou maior quantidade, somos regidos pelos rótulos dados pela aparência de uma situação. Julgar pelas aparências constrange. Exatamente porque em boa parte das vezes ressaltam-se os aspectos pejorativos ou depreciativos.
Se fulana é gorda é porque come demais. Come demais e é preguiçosa ao ponto de não fazer uma atividade física para recuperar a “boa forma”. São poucos que consideram a fulana gorda porque pressupõem, à primeira vista, que ela tenha algum problema de saúde. A maioria tende para o lado do que é relapso mesmo.
Hoje é assim: todo político é corrupto, mas se ele faz alguma coisa ainda é bom. Tolerável até. Mas o petista é ladrão e por ser assim deve ser extirpado e odiado. Não existe gente descente no meio deles.
Os rótulos designam para bem ou mal. Mas são só rótulos. Eles não são a essência de ninguém. Rótulos são o meu e o seu olhar perante o outro. Esse olhar, quase sempre, parte de uma convenção social.
As convenções sociais, por vezes, são míopes. E podem refletir o que mais de ruim pode haver numa sociedade: o preconceito. Julgar pelas aparências ou julgar porque outros avaliam dessa forma pode se revelar algo perigoso.
Uma perversidade com a pessoa julgada que, por vezes, não tem condição de defesa. Se ela nasce em dada condição social ou racial, logo é taxada de preconceitos que acabam se reforçando com o tempo.
Rótulos são muletas que evidenciam uma sociedade decrépita. Uma sociedade que tem anos de formação e conhecimento, mas que ainda não conseguiu se desvencilhar deles: os rótulos.
De instrumentos de coerção a de defesa, os rótulos são usados assim há milhares de anos. Subjugar uma pessoa é uma receita antiga de querer exercer poder sobre ela.
Essa necessidade de existir reforçada pelo “medo” mantém o julgamento pelas aparências. Um exemplo? Tem quem acredita que todo mulçumano é terrorista, logo tem que ser caçado.
Preconceitos sempre existiram em algum nível. É como se fosse algo inerente à condição humana, e que só melhora quando se tem tolerância e menos ignorância.
Resistir aos rótulos é uma prova diária a que se é submetido. Em alguns dias é possível se sair bem, noutros, nem tanto. Ter clareza da própria fragilidade neste assunto é um bom começo para evitar injustiças.