Saldo foi de 1,6 mil empregos; consumo familiar engorda lucros de supermercados

Ricardo Welbert

De janeiro a outubro de 2020 a região Centro-Oeste de Minas teve um saldo de 1.692 empregos a mais com relação ao mesmo período de 2019. A indústria de transformação foi a principal responsável pelo resultado, com aumento de 1.369 postos de trabalho. Os dados são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Em relação à arrecadação de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), a variação foi de 1,0% no mesmo período analisado.

O município de Cláudio foi o que mais contratou durante o ano. Foram 667 novos empregos. 

Para o presidente regional da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Eduardo Soares, a surpresa com números positivos em um período tão conturbado se deve ao fato de o isolamento social ter estimulado as pessoas a consumir mais localmente. Supermercados e negócios ligados à alimentação venderam mais durante a pandemia do que antes dela.

“Nos meses de maio e junho o consumo cresceu muito. Ninguém contava com a força do consumidor doméstico, que começou a gastar muito mais no supermercados próximos de casa. Com os auxílios que receberam pelo tempo que ficaram sem trabalho, esses consumidores fomentaram o agronegócio e os setores alimentício e farmacêutico, que continuaram vendendo e crescendo. Os supermercados estão batendo recordes de vendas. Os produtos alimentícios tiveram um crescimento espetacular”, analisa.

Junto com essa alta no consumo familiar, outros setores vêm melhorando e acumulam crescimento neste semestre. A situação é positiva também para quem exporta. “A alta do dólar favoreceu quem negocia na moeda norte-americana. Está todo mundo lucrando mais do que antes. Principalmente o produtor de ferro-gusa”, acrescenta.

A exportação de ferro-gusa surfa na desvalorização do real frente ao dólar (Foto: CSN/Divulgação)

Nem tudo são flores

Os resultados não foram positivos para todos na região. Há setores que seguem sem previsão de recuperar. Também há os que poderiam ter tido um resultado melhor, mas não tiveram tempo porque precisaram fechar as portas quando o confinamento começou. Muitos desses empresários optaram por dispensar funcionários e amargaram quedas na produção e no faturamento.

“A construção civil, por exemplo, sente agora aumentos nos materiais. Ocorre que muitas indústrias que fornecem insumos para a construção civil deram férias para empregados e foram reformar seus fornos. Com isso, tem faltado produtos. Isso desregulou o mercado e o consumidor hoje chega a levar de 30 a 45 dias para receber produtos desse setor”, pontua.

Nova Serrana é o município da região que mais demitiu. A capital do calçado perdeu 2.377 postos de trabalho no mesmo período.

Minas Gerais

Já no panorama estadual, as medidas de isolamento social também provocaram choques de oferta e de demanda. Para o presidente da Fiemg, Flávio Roscoe, houve rápida reversão das perspectivas de recuperação econômica.

“Em março o cenário era devastador. Mas, passado o período mais intenso, o desempenho industrial surpreendeu positivamente. Nos meses de maio a setembro, a produção da indústria geral acumulou alta de 37,5%, superando ligeiramente os níveis pré-pandemia”, diz.

A gerente de Economia e Finanças Empresariais da Fiemg, Daniela Britto, afirma que a desvalorização do real ampliou a competitividade das exportações e favoreceu a substituição de bens importados pela produção doméstica, assim como a taxa de juros baixa e crédito imobiliário facilitado estimularam a indústria da construção. “Nossa visão é que voltaremos a crescer o ano que vem com dezenas de lições aprendidas e com alta de 6% no PIB do setor em Minas Gerais”, projeta.