Internada em Pará de Minas, Maria Aparecida correu risco de morte; tratamento ofertado em Divinópolis é adequado
A vendedora de roupas Maria Aparecida Soares Mendes, de 48 anos, que há 20 dias aguardava em Pará de Minas por uma transferência hospitalar que pudesse lhe salvar a vida, conseguiu no começo da noite desta quarta-feira (14/7) uma vaga, quando o Sistema Único de Saúde (SUS) sinalizou a disponibilidade de um leito para acolhê-la no Complexo de Saúde São João de Deus (CSSJD), em Divinópolis.
Maria Aparecida estava internada desde o dia 18/6 no Hospital Nossa Senhora da Conceição, em Pará de Minas. Ela sofre um tipo não especificado de leucemia mieloide, doença caracterizada pelo acúmulo de células que não se desenvolveram completamente e que passam a se espalhar de forma descontrolada, deixando de desempenhar a função de proteger o organismo contra bactérias e vírus. Por ser capaz de evoluir rapidamente, demanda o começo imediato do tratamento com o acompanhamento de hematologista. É o caso de Maria Aparecida, que, segundo o laudo médico, corre risco eminente de morte.
Começo da espera
Há 20 dias, Maria Aparecida teve o nome inserido e classificado como caso urgente na fila de espera por transferência do SUS Fácil, sistema estadual para busca de leitos, no qual pacientes que precisam de um leito em caráter de urgência e emergência são cadastrados. Por meio dele os hospitais enviam os laudos dos pacientes com informações sobre o diagnóstico e evoluções clínicas.
O laudo da paciente foi claro. Ela corria risco de morrer se continuasse no leito hospitalar despreparado para o caso dela. A demora pela liberação de transferência gerou revolta na família, que no dia 7/7 ajuizou uma ação. No mesmo dia o magistrado emitiu um despacho com determinação em caráter de urgência para que em até 48 horas da intimação, a paciente fosse transferida para uma unidade de saúde pública ou particular.
O despacho dizia ainda que a unidade deveria arcar com os gastos da transferência e custos referentes ao tratamento necessitado pelo paciente na forma prescrita e pelo tempo que fosse necessário à sua recuperação, sob pena de multa diária de R$ 1 mil, limitada a R$ 100 mil na hipótese de descumprimento. O prazo venceu no dia 9/7 e Maria Aparecida continuava em Pará de Minas.
Revolta
Irmão da paciente, Ronaldo Mendes falou sobre a experiência de ver a irmã piorar a cada dia, quando ela ainda estava no primeiro hospital.
“Cada segundo que a minha irmã passa sem a transferência é uma chance a menos de ela sobreviver. Isso é muito triste”, desabafou.
A perita trabalhista Patrícia Ribeiro faz parte de um grupo voluntário “Eu Quero Viver”, que presta apoio a pacientes oncológicos. Ela conta que soube da situação de Maria Aparecida no dia 8/7 e desde então fez contatos com diversas autoridades em busca de apoios.
“Imediatamente fiz contatos com pessoas que sempre nos ajudam no grupo. Inclusive médicos e um deputado estadual da região, que se prontificaram a tentar nos ajudar. Desde então fizemos tratativas diárias para conseguir a transferência”, conta.
Ela tentou até falar com a Defensoria Pública, para avisar ao órgão que todo o tempo despendido na ação ajuizada estava sendo perdido, pois, ao quinto dia do despacho que expirou em seu segundo dia, a transferência ainda não havia ocorrido.
Experiente no auxílio a pacientes na região por meio do grupo de apoio, Patrícia classificou a falta de respostas sobre o caso de Maria Aparecida como descaso.
“A sensação é também de desamparo. Porque mesmo com uma determinação judicial que já devia ter sido cumprida, há também o do sentimento de impotência vendo uma pessoa de apenas 48 anos padecendo e diminuindo suas chances de de recuperação, tendo seu quadro agravado a cada instante pela falta de um hematologia/ hospital que tenha essa especialidade. Só restou à família recorrer à imprensa em mais uma tentativa de fazer valer o direito constitucional à saúde de todo e qualquer cidadão. Sabemos que isso não é um caso isolado e que milhares de pessoas passam pela mesma situação. Entretanto, não é por ser uma situação corriqueira que temos de aceitar como normal ou natural. É preciso dar voz a essas pessoas. Principalmente quando até os meios judiciais já foram atingidos”, disse.
Hospital
Em nota à imprensa, o Hospital Nossa Senhora da Conceição havia informado, quando a paciente ainda estava lá, que quatro dias depois da internação da paciente a instituição solicitou transferência, através do SUS Fácil, para o CSSJD, especializado em atendimento oncológico.
Disse o hospital que, tão logo recebesse a autorização, a paciente seria imediatamente transferida. Enquanto isso, garantiu, Maria Aparecida seguiria recebendo tratamento e acompanhamento constante pela equipe de profissionais e que ela, de fato, necessitava de internação em uma casa de saúde especializada.
Transferência celebrada
Logo após ser informada da transferência, Patrícia Ribeiro enviou mensagens a todos os que, de alguma forma, se engajaram para ajudar.
“Graças a Deus, finalmente transferiram! Chegaram no São João de Deus tem uns 20 minutos. Acabei de ver a mensagem do irmão dela. Graças a Deus ela conseguiu! Terá tratamento adequado! Terá direito a lutar pela vida! Obrigada a quem se indignou e contribuiu para que esse caso desse certo. Em especial à imprensa, que tratou com respeito e ajudou a devolver a dignidade a essa paciente. Desejo que um dia não precisemos ajuizar ações e tampouco tenhamos de ser notícia para ter o mínimo de acesso à saúde. Muito obrigada a todos”, escreveu.