Por Lohanna França
Deputada Estadual

Crescemos ouvindo que política não é lugar de mulher. E confesso que até ser eleita, não entendia essa frase. Hoje sei que não é que a política não seja nosso lugar, na verdade os espaços políticos dominados majoritariamente por homens, é que não foram construídos para nós.

Como a política é feita por e para homens, qualquer um que ouse acessar esse espaço, é considerada uma transgressora por natureza.

Lembro de ter ficado alarmada quando soube que somente em 2016 foi construído um banheiro para senadoras no plenário do Senado Federal. Antes, as parlamentares usavam o banheiro do restaurante anexo ao plenário. Foram anos de reivindicações e questionamentos do tratamento desigual até terem essa “conquista”.

Ao longo da história política do Brasil, os mandatos de mulheres sempre foram de muita luta. Pensar no papel social desempenhado pelas mulheres sob a ótica da política é um exercício de reflexão, principalmente se levarmos em consideração a construção da sociedade como um todo e o machismo estrutural, em que o homem sempre ocupou o espaço público e a mulher o privado.

Sempre tivemos que levar o banquinho à mesa, porque não tinha cadeira para mulheres. Muitas de nós (não importa o cargo) foram humilhadas, rebaixadas, ofendidas e até assediadas por tentarmos ocupar esses espaços.

Agora, imagina ser uma mulher jovem no parlamento.

Muitas vezes fui criticada com frases como “Quem essa menina pensa que é”, não pela minha idade, mas porque para eles, uma mulher jovem não tem o direito de pensar e emitir opinião. Questionam com frequência a nossa idade, sempre somos muito jovens, ou então muito velhas. O que dá para perceber é que na política não existe idade certa para as mulheres.

A verdade, é que para alguns, a idade “certa”sempre será a do homem.

No cargo de vereadora, muitas vezes fui ameaçada a ser levada à comissão de ética enquanto as mesmas frases ditas por homens, no mesmo contexto, num tom muito mais agressivo, eram aplaudidas. O machismo estrutural existe e persiste, mas nunca me calei. Sempre lutei contra, denunciei e escancarei o tratamento diferenciado recebido, simplesmente por ser mulher. Além disso, o machismo na política é diário e quase sempre vem disfarçado de opinião.

Assim, podemos entender porque o simbolismo de 8 de março sempre é tão importante.

A data celebra as muitas conquistas femininas ao longo dos últimos séculos, mas também serve como um alerta sobre os graves problemas de gênero que persistem em todo o mundo.

Conquistamos com muita luta o direito ao voto, por isso temos que fortalecer as mulheres no poder, desde as bases.

Muito mais do que votar, devemos participar!

A participação das mulheres na política é essencial e necessária, pois representatividade feminina é fundamental na construção de políticas públicas e lutas pelos direitos das mulheres, em um cenário em que ainda há muita exclusão e ódio.

Também é urgente recordar que, além de eleger mulheres, é preciso apoiá-las em sua permanência: dada a violência do dia a dia na política, as mulheres com frequência não persistem por mais mandatos e conquistem novos espaços. Isso é inaceitável e só mudará com apoio às eleitas.

Lembremos que o bom governante é aquele que tem compromisso além da democracia e com a coletividade – compromissos esses que a maior parte das mulheres demonstra ter de sobra.