Se o temor já existia, agora ele cresceu numa escala absurda depois do atentado terrorista em Nice, França. O fato é que daqui a aproximadamente 15 dias será realizada a Olimpíada do Rio, e com delegações vindas de várias partes do mundo a preocupação de um ataque terrorista no Brasil, durante os jogos, cresce.
Confesso que não sou nenhum especialista em segurança ou integrante de serviço de inteligência nacional, mas uma coisa eu digo: o risco é quase zero. Digo quase porque se os atletas se limitarem às áreas de competição e à Vila Olímpica nada acontecerá.
Os atletas que virão à Olimpíada do Rio sofrerão ataques terroristas se forem cidadãos comuns e necessitarem, por exemplo, de atendimento médico em hospital público. Se forem à periferia serão mais facilmente atacados pelo tráfico ou por policiais inaptos ou mal-intencionados. Correm risco de atentado se forem comprar alguma coisa no mercado, que está custando os olhos da cara. Correrão riscos se dependerem de obra pública superfaturada, mal construída e que pode cair.
Se evitarem esses e alguns outros casos a estadia das delegações será tranquila durante a Olimpíada. Situação ruim mesmo é a do povo, que é atentado todo o dia e vê pouca coisa mudar por aqui.
Terrorismo é crime hediondo em qualquer lugar no mundo. No Brasil, ele recebe outros nomes e os atentados continuam a acontecer. Milhares de pessoas morrem em decorrência da violência, da ausência do Estado e também da desvalorização da vida do próximo, em que uma pessoa se torna juiz e executa a outra, quase sempre motivada por motivos torpes.
Ao invés de chorar os nossos mortos e mutilados vítimas dos nossos atos terroristas domésticos, nos sensibilizamos mais é com as desgraças dos outros. Devemos ter todo respeito à dor de quem perdeu familiar ou amigos nos atentados recentes, mas sem perder o foco das nossas constantes tragédias locais.
Pior do que qualquer risco de atentado terrorista que nos exponha, negativamente, para o mundo durante os jogos do Rio, é ser marcado como um país desorganizado. Que sustenta um golpe brando, que é refém de políticos que instituíram feudos para se manter no poder. Ser um país que ainda sofre com o racismo e com a violência contra a mulher, que estão enraizados na “cultura” de boa parte da população.
Não serão só bombas, aviões, caminhões, tiros e armas químicas os principais instrumentos de terrorismo que poderão ser aplicados por aqui. Existem outras tantas formas de tocar o terror no Brasil que conhecemos bem e que agora o mundo todo, com os olhos voltados para a Olimpíada do Rio, terá a oportunidade de conhecer de forma mais intensa.
Apesar da maquiagem e do perfume, as vísceras estarão expostas. Elas, para o azar de muitos, fedem.
Por aqui tudo normal. Será?