Associação Cultural Terreiro de Candomblé Roça Mãe Danda
Associação Cultural Terreiro de Candomblé Roça Mãe Danda no desfile cívico de Divinópolis (Foto: Divulgação/Prefeitura de Divinópolis)

O grupo foi o único a não ser anunciado no desfile cívico; Órgão responsabiliza Mundi e pede desculpas

Os membros da Associação Cultural Terreiro de Candomblé Roça Mãe Danda acusou a prefeitura de Divinópolis de “racismo religioso”. Relatou que foi “ignorado em sua passagem pelo das autoridades” durante o desfile cívico-militar em comemoração aos 111 anos de Divinópolis.

Leia a nota na íntegra:

“Os membros da Associação Cultural Terreiro de Candomblé Roça Mãe Danda, com muita tristeza, vem a público protestar contra o ato de racismo religioso cometido pela administração municipal, no desfile de comemoração dos 111 anos de Divinópolis.

Em sua primeira participação nas comemorações de aniversário do município, os membros foram o ÚNICO grupo que não foi anunciado durante o desfile, além de ter sido completamente ignorado em sua passagem pelo palanque das autoridades. Não se pode pensar que foi apenas um ato falho, em se tratando uma casa religiosa de matriz africana. Vale reforçar que, infelizmente, casos de racismo religioso, como esse, não são eventos isolados, são recorrentes. O fato reforça como a administração municipal, além de não promover nenhum tipo de política pública voltada para a religião, invisibiliza os seus praticantes.

O Estado Democrático de Direito não comporta ataques ao direito de liberdade religiosa, uma vez que a Carta Constitucional garante a inviolabilidade da liberdade de consciência e de crença, assegurando ainda o livre exercício dos cultos religiosos. Uma cidade democrática depende diretamente do respeito e da valorização de todas as religiões. Atos, como esse, reforçam a necessidade de continuarmos conclamando nossa sociedade a refletir sobre os fundamentos e os princípios que norteiam a nossa República, que vão na contramão de qualquer ato de intolerância, racismo, discriminação ou preconceito.

Praticantes dos cultos de matriz africanas são cidadãos, que trabalham, pagam impostos, movimentam a economia, geram emprego e renda para a cidade e todos os seus direitos devem ser respeitados por seus governantes. Vivemos em um estado laico que tem por obrigação acolher e valorizar o pluralismo religioso de um povo tão heterogêneo como o nosso.

Os membros reforçam ainda o seu compromisso de não se calar perante as injustiças, de lutar pela pluralidade das inúmeras fés brasileiras, repudiando, confrontando e combatendo o racismo religioso.”

A Prefeitura de Divinópolis, através da Secretaria Municipal de Cultura (Semc), alegou que a inscrição para participar do tradicional Desfile Cívico-Militar em comemoração ao aniversário da cidade, era de responsabilidade de cada um (instituições, entidades, associações, corporações militares, escolas existentes na cidade e demais movimentos) que desejava desfilar.

O Movimento Unificado Negro de Divinópolis (Mundi) realizou a sua inscrição e encaminhou o texto, para o setor de Comunicação da Prefeitura, na qual deveria ser lido no momento em que estivesse desfilando. Entretanto, nele não consta que teria uma das casas de representantes de religião afro descendente e, por não ter a nomenclatura religiosa, não foi mencionado pelo cerimonial. Foi citado apenas o Mundi.

A prefeitura informou ainda que a retratação foi feita, ainda durante o desfile, pela vice-prefeita e secretária de Governo, Janete Aparecida. Ela ocorreu um pouco antes do Frei Leonardo conceder uma benção.

“Peço desculpas pelo ocorrido, que não foi citada no momento do seu desfile a Associação Cultural Terreiro de Candomblé Roça Mãe Danda, este tipo de intolerância jamais será aceita pelo município”.

Leia a nota na íntegra da prefeitura.