Apesar da melhora dos indicadores da covid-19, o ensino híbrido continua a ser adotado em algumas universidades privadas. O excesso de aulas virtuais, a fusão de turmas, a redução de disciplinas e o não uso dos laboratórios para atividades práticas, entre outras questões vêm desagradando alunos e docentes, que apontam perda de qualidade do ensino e descumprimento dos contratos firmados, em contraste com o aumento das mensalidades e dos lucros das instituições.

Essas e outras questões foram debatidas na quinta-feira 07/04, em Audiência Pública realizada pela Comissão de Educação da Câmara Municipal de Belo Horizonte, a pedido dos próprios alunos do Centro Universitário de Belo Horizonte – UniBH, e do Centro Universitário UNA, que tem 19 unidades espalhadas pelo estado. Os estudantes reclamam da falta de diálogo e relataram atitudes intimidatórias das duas instituições quando confrontadas.

Menos qualidade e mais lucro

A fusão de turmas de diferentes períodos foi um dos problemas apontados pelos participantes da audiência. “A aglutinação de turmas atinge os professores, que se sentem exaustos; em vez de cinco aulas em cinco turmas com 50 ou 60 alunos, hoje eles dão apenas uma para mais de 200 alunos, sem receber nenhum adicional”, denunciou Valéria Morato, presidenta do Sinpro Minas. “A medida desconsidera os níveis de complexidade das matérias e prejudica tanto os iniciantes quanto os avançados”, reclamou a estudante Raquel Rodrigues, da UniBH.

Valéria lamentou que as instituições privilegiem o lucro em detrimento da qualidade. Ela afirmou que o grupo Ânima, mantenedora das duas instituições – é campeã de redução de carga horária dos professores; só no início do ano, eles perderam mais de 1.200 horas/aula, mais que o dobro da segunda colocada.

Segundo ela, o Sinpro tem orientado os professores a não assinar a alteração de contrato que está sendo imposta, extremamente prejudicial à categoria, já que a tentativa de acordo com a mantenedora não teve sucesso. “Estamos em campanha reivindicatória; os professores precisam de respeito e autonomia e a educação não pode ser tratada como mercadoria”, protestou.

Outra reclamação recorrente foi sobre o aumento abusivo das mensalidades, considerando que, com a ausência dos estudantes e professores, os custos não cresceram. “Enquanto ficamos em casa, as aulas práticas não são repostas e os laboratórios continuam fechados”, afirmou a estudante Laysa Andrade, da UNA.

Os representantes das instituições afirmaram que seguem as normas do Ministério da Educação (MEC) e justificaram a enxurrada de aulas remotas defendendo que a palavra “presencialidade”, presente no contrato, não significa “cinco dias dentro da sala de aula”.

A anfitriã da Audiência Pública, vereadora Macaé Evaristo (PT), comunicou que o Relatório da audiência será encaminhado ao (MEC), ao Ministério Público Federal e ao Procon para que avaliem as questões e tomem medidas para garantir o direito à educação e atender as partes mais frágeis e mais importantes do sistema.