Audiência pública: Vereadores vão emitir nota de repúdio contra repasse da Uemg para a União

Minas Gerais
Por -17/06/2025, às 16H58junho 17th, 2025
Câmara de Divinópolis
(Divulgação/Câmara de Divinópolis)

Audiência pública em defesa da UEMG lotou a câmara de Divinópolis

Vereadores de Divinópolis emitirão uma nota de repúdio contra projetos do governo estadual, dentre eles que o permite, por exemplo, a transferência de imóveis da Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg) para a União como forma de abater na dívida do estado. O encaminhamento ocorreu durante a audiência pública desta segunda-feira (16/6) – uma das maiores já realizadas no município. O evento reuniu estudantes, professores, lideranças políticas e representantes de diferentes categorias profissionais para debater a proposta do Governo de Minas Gerais. Entre o debate também estava a federalização.

O encaminhamento final da audiência foi a elaboração de uma Nota de Repúdio, que será enviada à Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), solicitando o arquivamento dos dois projetos que compõem o pacote do governador Romeu Zema (Novo). A medida integra o Programa de Pleno Pagamento das Dívidas dos Estados com a União (Propag) e inclui, além da UEMG, a entrega de autarquias, fundações públicas e bens móveis e imóveis do Estado.

A proposta provocou forte reação entre os presentes. Eles enxergam no projeto uma ameaça à autonomia da universidade e até mesmo um risco de extinção da instituição. Atualmente, a UEMG campus Divinópolis é responsável por formar milhares de profissionais e por desenvolver projetos de pesquisa e extensão que impactam diretamente a cidade e a região.

Nove vereadores marcaram presença na audiência pública. São eles: Kell Silva (PV), Washignton Moreira (Solidariedade), Vitor Costa (PT), Israel da Farmácia (Progressistas), Flávio Marra (PRD), Josafá Anderson (Cidadania), Hilton de Aguiar (AGIR), Matheus Dias (Avante) e Wesley Jarbas (Republicanos). Também participaram autoridades como as Deputadas estaduais Lohanna França (PV) e Beatriz Cerqueira (PT). Além de representantes da gestão da UEMG e do corpo docente e discente.

Patrimônio de Minas Gerais

Após os pronunciamentos iniciais, estudantes e professores inscritos tiveram a oportunidade de se manifestar. Em seguida, a vereadora Kell Silva, presidente da Comissão de Participação Popular, convidou o corpo técnico da universidade para expor suas análises.

A reitora da UEMG, Lavínia Rosa Rodrigues, relembrou a trajetória da instituição:

“A universidade é um patrimônio que vem sendo construído, essa unidade de Divinópolis já existe há mais de 60 anos, com uma produção de pesquisas, produções acadêmicas muito ricas, e que contribui de forma indelével para o desenvolvimento da cidade. O mais importante de se dizer aqui hoje é, que queremos melhorar as condições da nossa universidade, mas principalmente que o diploma de uma universidade estadual é tão importante quanto qualquer outro diploma de uma universidade federal. Tenho certeza que com esse movimento de resistência, iremos vencer esse embate da venda da nossa universidade”.

A deputada Lohanna França (PV) também destacou o histórico de lutas da UEMG:

“A UEMG tem uma história de muita luta antes da estadualização, dos professores, dos estudantes, e agora estamos novamente resistindo ao movimento de sucateamento dos nossos instrumentos de educação. […] E pra finalizar a minha fala eu tenho um pedido a fazer para os vereadores da Câmara de Divinópolis, que apoiem uma Moção de Repúdio enviada à Assembleia Legislativa de Minas Gerais em defesa da Universidade do Estado de Minas Gerais, esse é o meu pedido como encaminhamento dessa reunião, considerando que será um encaminhamento da décima maior cidade de Minas, e isso pesa pra quem tem voto na Assembleia”.

Já a Deputada Beatriz Cerqueira (PT) apontou o verdadeiro propósito do projeto:

“Não nos iludamos, o objetivo desse projeto não é federalizar, mas sim fechar a faculdade, vender os imóveis e comercializar a educação, uma vez que os alunos buscarão outros meios de estudos, nas unidades privadas ou federais. Isso é um mecanismo para acabar com essa grande universidade em expansão. Gostaria de dar algumas sugestões aqui, e uma delas é pedir a retirada e arquivamento destes dois projetos para que não haja riscos de algum colega votar sendo induzido ao erro que é essa falsa federalização. É importante que a cidade por meio dos Vereadores peça o arquivamento destes dois projetos e nós contamos com isso”.

O diretor do campus Divinópolis, André Amorim Martins, ressaltou a importância histórica da unidade:

“Fizemos 60 anos há pouco tempo, enquanto a Universidade do Estado foi constituída em 1989/90 por meio da Constituição do Estado de Minas Gerais, a nossa já existia desde 1964. […] Nós não podemos permitir que enquanto cidadãos mineiros que usufruem dessa educação que é reconhecidamente de primeira qualidade seja extinta. Se este Governador ainda não sabe a importância de Minas Gerais, certamente a unidade de Divinópolis o fará conhecer do que a UEMG é capaz, uma vez que se ele propõe extinguir a universidade, Divinópolis vai dar o tom de que ele não merece ser o Governador de Minas Gerais”.

A diretora eleita do campus, Camila Fernanda Costa Cunha, apresentou números que demonstram a relevância da UEMG para a cidade:

“Quando fazemos um balanço apenas de 2024 até agora, a nossa unidade desenvolveu 324 projetos entre pesquisas e extensão, só de bolsas foram mais de R$3 milhões beneficiando nossos alunos e movimentando a economia da cidade. Os serviços de atendimentos de psicologia de 2022 até o momento foram de mais de mil pacientes, e isso significa que a universidade gera investimento para Divinópolis. Apesar do Governo não ter feito seu estudo de caso sobre a universidade, nós fazemos e demonstramos por meio dos números que 61% dos estudantes vieram de outras cidades para estudar na UEMG e que 83% não conseguem continuar os estudos se ocorrer a privatização. Por fim, 98% disseram que não têm condições de pagar qualquer tipo de estudo”.

Simbolismo da audiência pública em defesa da Uemg

Em entrevista ao Portal Gerais, a Vereadora Kell Silva reforçou o simbolismo da audiência:

“A noite de hoje é histórica para Divinópolis e para a luta pelo ensino público superior, gratuito e de qualidade não só na cidade, mas em toda a região. A UEMG em Divinópolis é um polo que recebe estudantes de diversos municípios, especialmente trabalhadores que buscam qualificação aqui.
A mobilização sempre foi a essência do movimento estudantil, e isso se comprova hoje. Como professora de História, é uma alegria imensa ver esta casa cheia de pessoas que serão o nosso futuro. Sempre digo aos meus alunos do ensino fundamental e médio: vocês são os próximos profissionais, são a esperança. E quando a gente vê a Câmara assim, sem um espaço vazio, a gente entende que está no caminho certo: em defesa da educação pública.”

O vereador Vitor Costa (PT), também estudante de História na UEMG, destacou a força do movimento:

Eu sei o valor da universidade pública, de qualidade, que é a UEMG para Divinópolis e todo o bem que ela faz para a nossa cidade. Hoje, participar dessa audiência pública contra o processo de privatização que o governador quer fazer com a nossa universidade, para mim, é um processo de mostrar a força que a UEMG tem e o seu valor para a nossa cidade de Divinópolis.”

Por fim, a vereadora Kell Silva confirmou que o encaminhamento da Nota de Repúdio será efetivado nos próximos dias:

“Não vamos permitir que alguém que não conhece a história da nossa universidade venha tirar o que é nosso por direito”.