Tenho feito um esforço enorme para não escrever sobre política. Não porque não goste do tema, mas sim porque está tudo tão sensível e dividido que qualquer entendimento do que é escrito nem sempre é racionalizado. Tem gente que interpreta pelo fígado. Aí fica difícil qualquer tipo de compreensão mais saudável, edificante.

Mesmo correndo o risco de não ser devidamente compreendido por alguns, respeito os entendimentos em contrário, vou arriscar aqui algumas observações:

Se considerarmos as últimas pesquisas visando à eleição para presidente, Bolsonaro hoje tem uma certeza:

Vai perder a eleição ano que vem.

Talvez isso justifique algumas de suas atitudes. Bolsonaro quer o caos, a instabilidade e o clima de desconfiança. Infla, sobretudo, sua base. Quer por brasileiro contra brasileiro. Outro elemento é uma possível instrumentalização de parte das Forças Armadas, que vem aderindo ao tom bélico das suas narrativas.

As cenas registradas na manhã da última terça, 10, ilustram bem o argumento descrito acima. Um desfile militar, atípico, na capital federal com dezenas de veículos, homens e armamento pesado só para encontrar o presidente e lhe entregar um convite.

Mas a mensagem principal não foi essa. O que se quis foi fazer um exercício de força e intimidação. Coincidência ou não, no mesmo dia que foi votada a polêmica PEC do Voto Impresso.

O Brasil, com graves sequelas, vai superar a pandemia, mas o que está por vir no campo político poderá ser igualmente traumático. A soberania nacional há tempos não foi tão ameaçada, e antes que a situação fique insustentável é necessário por um freio a qualquer arroubo de autoritarismo.

Caso isso não ocorra, o clima de guerra civil que se vê nas redes sociais vai ganhar as ruas. É exatamente esse cenário que vem sendo plantado bem diante de nossos olhos. O caos será a sobrevida do bolsonarismo.

Do outro lado, Lula terá que atualizar e moderar seu discurso para 2022. Até mesmo, fazer um mea-culpa. Indiretamente ele tem responsabilidade no atual quadro político, no qual a descrença e o ódio estão presentes.

O petista vai ter que aprender a falar com toda a sociedade brasileira. Sem a soberba típica da esquerda e entendo que o mundo mudou e que a relação capital e trabalho tem que ser mais harmoniosa. Com concessões dos dois lados, para todos ganharem.

Velhos modelos do passado – Cuba, Rússia/União Soviética, China – já não são bons exemplos. Regimes totalitários não são só vistos na direita. A esquerda também cria seus ditadores. Do tipo “made in” Venezuela, por exemplo.

É em meio a essa convulsão política que estamos a pouco mais de um ano das eleições presidenciais. São tempos difíceis para a nossa tão combalida democracia.

Enquanto contam-se os mortos pela Covid, que já são mais de MEIO MILHÃO, faltam emprego e comida. O que sobra, e enche o saco, é essa disputa de poder que causa instabilidade entre os poderes constituídos. Num momento tão estranho, muitos estão desejosos por um golpe.

Militar ou não.


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