Depois de um hiato de alguns meses, estamos de volta, fiel leitor. Agora, além do PORTAL completamente reformulado, vamos abrir um pouco mais as possibilidades. Agora, além de comunicação e educação, vou abordar outros temas como cultura, sociedade e comportamento. E nesse texto de retomada, aproveitando ainda o clima (nada tranquilo, diga-se de passagem) das eleições, que tal traçar um paralelo entre as três maiores paixões do brasileiro?
“Não se discute religião, futebol e política”. Acho que muitos já devem ter ouvido esse comentário, que se tornou bordão para alguns. A questão não é discutir ou não os ditos assuntos, mas muito mais saber propor um debate em alto nível (o que não é tarefa fácil). Por exemplo, tem gente que é adota um time de futebol por influência do pai, do irmão, do tio ou de alguém próximo. Não há lógica quanto a essa escolha. Então, mesmo que o time escolhido não consiga conquistar nenhuma vitória e viva de derrotas, o torcedor é leal e não se cansa de dizer “eu acredito”. Tentar argumentar essa escolha ruim, que não se baseia na lógica e sim na emoção, é criar um ambiente propício para palavrões do mais baixo calão. Trocar de time, então, é a morte. Esse comportamento é visto com suspeita e o sujeito costuma não ser muito bem recebido na “nova casa”.
A escolha de religião não é diferente. Geralmente são os pais que doutrinam a criança, ainda na tenra idade e, normalmente, a pessoa segue essa crença até o fim, deixando de lado a lógica e deixando que fé, que a crença, fale mais alto. Atritos entre quem professa religiões diferentes acontece, mas salvo exceções, não é algo muito extremo como acontece no Oriente Médio. Mas, da mesma maneira que no futebol, levantar questionamentos sobre a escolha de determinada crença pode gerar um clima nada amistoso. Nas redes sociais, não é difícil encontrar ataques e xingamentos quando o assunto religião vêm à tona.
Esse comportamento emotivo quando se trata do debate relativo à futebol e religião, diria eu, não se justifica, mas se explica porque ambos se baseiam em preceitos particulares e familiares. Já a política, deveria ser a única paixão do brasileiro que se baseia na razão. Deveria. A escolha partidária no contexto político leva em consideração uma série de fatores, entre eles quem é o candidato, suas propostas e quais ideias ele defende e quais critica. Só que o comportamento rotineiro do dito cidadão brasileiro politizado é mandar a razão pros quintos e partir pro ataque. Algumas vezes, chegando às vias de fato.
Assim como no futebol, não importa se o candidato tem chances real de vitória ou se ele nunca conseguiu realizar nada de concreto. Aos olhos do partidários de plantão, que nunca desistem, ele é a melhor escolha. E aí de quem questionar! O fervor é tamanho que as vezes não se parece mais política e sim, uma doutrina religiosa com extremistas dispostos à tudo para fazer prevalecer sua crença. Ataques e discussões de baixo calão não são novidade na política, principalmente em períodos eleitorais. Vale tudo para tentar conquistar atenção do seu candidato e denegrir a imagem dos rivais.
Como disse logo no início desse texto, propor debates de alto nível, com boas propostas e um diálogo respeitoso é algo extremamente difícil, tanto para o futebol, quanto a religião e, principalmente para a política, que deveria se basear na razão. A paixão do brasileiro fala mais forte e qualquer crítica, ainda que bem embasada, construtiva e verdadeira, é tomada como um ataque pessoal.
Na verdade, se prestarmos atenção, o comportamento é muito parecido entre um fiel, um torcedor e eleitor. Não se desarma quando o assunto é bola, fé e voto.