EDITORIAL

Se não por desespero, o vídeo feito pelo prefeito de Divinópolis Gleidson Azevedo (PSC) ao lado do secretário de saúde Alan Rodrigo Silva foi simplesmente um “bola fora”.

Na gravação eles falam sobre o tratamento precoce contra a COVID-19 – sem comprovação científica. Tirando a responsabilidade do município da reta, dizem que não cabe protocolo municipal.

O próprio secretário reconhece que a institucionalização demandaria estudo que comprovasse a eficácia. Mas, logo faz uma baita publicidade para os medicamentos ao lembrar que eles são ofertados pela rede pública.

Ivermectina, Hidroxicloroquina, Zinco, foram três dos citados por Alan. Para ter acesso, basta o médico da rede pública prescrever e o paciente assinar um termo de responsabilidade.

O vídeo gerou mal-estar, principalmente, entre os membros do Comitê de Enfrentamento à COVID-19 – o clima já não está lá grandes coisas, confidenciou algumas fontes. O que tem gerando debandada dos mais técnicos. Em outras palavras, de forma mais sutil, ausência.

Não demorou para o vídeo sair do ar e das páginas do prefeito – adepto às redes sociais.

Para tentar corrigir, Gleidson pediu a formação de uma equipe técnica para avaliar a implantação do protocolo.

Sem surpreender, ele foi negado pela equipe que contou com médicos infectologistas e da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ).

No mesmo dia, a comunicação da prefeitura emitiu uma nota, reafirmando o que já havia sido dito no vídeo, que não terá protocolo, mas informando que medicamentos continuam disponíveis.

Para soar bonito usou a “autonomia médica” para justificar a decisão e reforçou, mais uma vez se esquivando da responsabilidade, que cabe ao paciente assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). A prescrição ou não também deve ser anotada no prontuário.

Com os leitos lotados e a pressão da população, os desespero está batendo nas portas dos prefeitos.

Embora divida opiniões, o tratamento precoce virou um tiro no escuro para não soar como se os líderes locais estivessem inertes às soluções.

O perigo está em onde este tiro poderá acertar.

Não resta senão apostar numa tremenda irresponsabilidade. Cada um tem o direito de aceitar ou não o tratamento recomendado por um médico, não há o que questionar.

Daí a publicização por um político, teoricamente líder, é incentivar e ignorar todos riscos ao prescrever medicamentos sem evidências científica.