O professor José Heleno criticou a brincadeira feita pelo vereador Diego Espino (Foto: Divulgação)

“Todes não é uma marca de achocolatado (…) é uma forma respeitosa de se dirigir a pessoas não binária”, afirmou

Professor da rede fundamental,  José Heleno Ferreira, pediu que o vereador Diego Espino (PSL) peça desculpas pela brincadeira feita durante a votação do projeto que proíbe a linguagem neutra nas escolas do município. O pedido foi feito, nesta terça-feira (21/9), ao utilizar a tribuna livre.

Ao defender a matéria, que foi aprovada por 14 votos, Espino disse que “Todes sempre será achocolatado”. Por compromisso em Brasília, o parlamentar não participou da reunião de hoje.

“Todes não é uma marca de achocolatado como foi dito no plenário desta casa na última quinta-feira por um vereador. Penso que seria interessante que esse vereador pedisse desculpa”, afirmou Ferreira.

O professor foi além:

“Todes é uma forma respeitosa de se dirigir às pessoas não binárias. É uma construção do movimento LGBTQIA+, para que elas se sintam incluídas no debate público”, enfatizou.

A brincadeira, segundo o Ferreira, mostra o quanto é necessário debater a linguagem inclusiva nos espaços públicos.

“Uma brincadeira tão ofensiva as pessoas não binárias que vêm sendo vítimas de violência neste país”, declarou.

O educador foi responsável em elaborar o parecer do Conselho Municipal de Educação que sugeriu a não aprovação do projeto. Dentre várias argumentações, foi citada a inconstitucionalidade.

“Liberdade”

Ao usar a tribuna hoje, concordou com o escopo do projeto que diz sobre a importância de garantir o direito ao aprendizado da língua portuguesa de acordo com as normas e orientações legais de ensino.

“Nada temos contra isso. É necessário garantir esse direito, assim como é necessário garantir o aprendizado de maneira geral para todas as pessoas”, destacou.

Citando a lei de Diretrizes de Base da Educação, disse que é necessário garantir “a liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber”. Assim como, a pluralidade de ideias, concepções pedagógicas, a liberdade, a tolerância.

“Se queremos uma educação que garanta tudo isso, não é possível negarmos as mudanças que acontecem cotidianamente em toda a sociedade, inclusive no campo da linguagem”, defendeu.

Para ele, a “escola tem por obrigação fazer esse debate”.

“A escola não é uma ilha. E ela precisa levar para o seu interior, para o debate com as crianças e adolescente tudo aquilo que está presente no movimento social. Do contrário, essas crianças e adolescentes ficarão reféns daquilo que está apenas colocado na mídia e pelos grupos hegemônicos que conseguem se fazer ouvir”, analisou.

Ferreira ainda citou que o Brasil é o país que mais mata trans e travestis em todo o mundo.

“Um quarto das travestis assassinadas no mundo inteiro são brasileiras e isto precisa ser pensado por nós educadores, por todas e todos que temos compromisso com a construção da democracia e de uma sociedade igualitária”.

Ele também defendeu o debate e a participação na elaboração de proposta.

“A lei é uma construção social e como tal, nós precisamos estar sempre mudando para construir uma lei que garanta os direitos de todas e todos. Neste sentido, as leis não podem ser engessadas. Elas precisam sempre passar por este processo de revisão para que elas deem conta da realidade”.

Reafirmando a inconstitucionalidade, ainda afirmou que ela é “inócua”.

“Ela (linguagem neutra) continuará sendo usada por homens e mulheres que querem esse avanço na sociedade”, finalizou.