Marcelo Lopes
Chegando próximo do Natal, sempre conhecemos histórias de vida que são um exemplo para todos nós. Algumas de superação, outras de solidariedade, mas sempre muito cativantes e que nos causam grande inspiração. José Osório, de 81 anos e Maria do Carmo, de 80 anos, são uma grande demonstração de que o verdadeiro amor pode ultrapassar décadas, distâncias e dificuldades. Um sentimento que se conecta e de forma gentil, se retribui.
José é natural de Campo Belo, no Sul do estado. Já Maria do Carmo, nasceu em Guidoval, na região da Zona da Mata. Após suas formações no Ensino Médio, ambos foram estudar em Viçosa, para iniciar mais uma fase em suas vidas: o curso superior. Ele cursava Engenharia Agrônoma. Ela, Ciências Domésticas. Áreas que se relacionam no âmbito rural. Foi então no fim do primeiro ano que tudo começou. Durante o intervalo das aulas na faculdade, os alunos, que ficavam em repúblicas próximas ao campus, passavam seu tempo livre conversando no local.
“Existia o alojamento masculino e no feminino havia um salão. Era nele que a turma se encontrava para bater papo e aí que nos conhecemos (…) Começamos os cursos e os terminamos juntos. A duração dos dois eram de quatro anos”, explica José.
Após o fim dos cursos, o namoro continuou, mas não de uma forma presente por um tempo. Maria do Carmo ganhou uma bolsa de estudos e foi para o Espírito Santo trabalhar. Osório voltou para a cidade de Muzambinho, a qual trabalhou no serviço público do município, em uma escola onde já havia estudado. Naquele tempo não existia internet, redes sociais e tampouco aplicativos de mensagens. A comunicação era por meio de cartas e uma vez por mês, José a visitava em terras capixabas.
Tempos depois, o amor se tornou casamento. José diz que o ambiente dos dois cursos contribuiu para que muitas histórias de amor nascessem por ali.
“Com a convivência do pessoal da Agronomia com a turma de Ciências Domésticas, era muito comum de lá sair casamentos. Quando concluímos o curso, já ficamos noivos e marcamos a cerimônia dois anos depois, em 1964”. O relacionamento colheu seus frutos. Tiveram cinco filhos e oito netos. Nesses 53 anos de casados, devido ao emprego de José em uma empresa siderúrgica, que permaneceu até sua aposentadoria, em 1993, os dois moraram em diversas cidades mineiras. Só em Divinópolis, já são cinco anos de relação com o município.
Alegrias marcaram as duas vidas, mas também momentos difíceis fizeram parte de suas rotinas. Há oito anos, foi diagnosticado que Maria do Carmo estava com o Mal de Alzheimer. “Quando ela começou a ter a doença, o nosso filho que é médico neuropediatra e que mora em Divinópolis, teve um professor neurologista em Belo Horizonte e assim que os dois conversaram, começamos a tratar com ele. Só que o único tratamento que essa doença tem é o a base de medicamentos com a intenção de amenizá-la. A doença não paralisa”, diz José.
Em oito anos de tratamento, Maria do Carmo sempre esteve tranquila e em boa convivência ao lado de José Osório, que sempre a auxilia em suas tarefas, nas lembranças e também nas caminhadas ao ar livre, realizadas duas vezes ao dia. Nesses exercícios diários, José a leva para a Faced, no centro da cidade, para Maria ter uma convivência com as pessoas ao redor do local, fazendo da rotina ainda mais agradável.
Para ele, sua ajuda é uma retribuição por toda a dedicação que Maria teve com a família:
“Ela foi a condutora da família. Nessas minhas atividades, eu viajava muito. Então foi ela quem cuidou dos filhos, os educou, fazia a própria roupa dos meninos como costureira. Eles são o espelho dela hoje. Eu reponho tudo que ela fez”, diz.
José e Maria se formaram recentemente no Faced Sênior, um conjunto de projetos voltados para o público da terceira idade, com atividades especialmente dirigidas a cidadãos seniores, com percursos e conteúdos adequados à sua faixa etária.
Podem passar décadas, problemas e quilômetros, mas o sentimento verdadeiro sempre prevalecerá. Na tristeza e na alegria, na saúde e na doença e em todos os dias da vida de um casal, o amor sempre estará vivo nestes corações, para todo o sempre.