toninho

 

Houve o caso da linda Letícia. Loira atraente, fluente e de um incrível sorriso, daqueles que dão vontade de pedir o cartão do dentista. Ela era namorada do Marcos; bem, este era o típico apaixonado, sufocante, inseguro e assassino.

 

Ele a matou.

 

A nossa turma se reunia sempre, os mesmos, namoros afastavam uns, mas sempre voltavam para nossa mesa de bar após alguma decepção.

 

Letícia apareceu numa quinta. Traída. Arrasada.

 

– Com a minha prima, há meses! Eu tô com ódio, se o vir, cuspo na cara daquele cretino – desabafou, ao frescor da caipirinha suíça.

 

Ouvimos, não opinamos, evitamos o olhar de pena, tratamos com carinho, mostramos apoio e… em uma semana ela reatou, pouco depois se casou, sob o olhar de paisagem de todos, inclusive do padre.

 

Marcos assassinou o sorriso mais lindo que já tínhamos visto.

 

Houve também o caso do Luquinha, o boa prosa. O cara era um falatório só, um chato, e o pior: não bebia. Eu particularmente nunca confiei em quem não bebe – isto me parece demasiado estranho – imagina a cena: você tem uma semana de cão, chefe te dando voadora com os dois pés todo dia e, na sexta, você se senta num bar com os amigos, respira fundo, solta o nó da gravata e grita:

 

– Janilson, ô Janilson, um suco de abacaxi com creme, por favor!

 

Nada confiável.

 

Bem, o caso é que ele se apaixonou por Laura, a divorciada. Eles assumiram namoro e seguiram perfeitamente o que o protocolo social da intimidade manda: andar de mãos dadas e atualizar o facebook com fotos dos dois em qualquer oportunidade – sempre.

 

Era sábado, estávamos no bar do Etinho, a propósito, a melhor dobradinha de porco da cidade, quando aponta o casal na esquina. Quase simultaneamente, ouço da mesa ao lado:

 

– A Laura tem namorado? Ué, peguei ontem.

 

Contamos para o Luquinha, ele a repreendeu, ela negou, ficamos de fofoqueiros, e ela de vítima. Casaram-se.

 

E sabemos que ela assumiu, após o enlace, o romance com o moço do bar. Soubemos também que ele implorou que ela não o largasse, propondo-a um casamento aberto. E assim foi.

 

Normal.

 

Mas meu caso favorito é o de Patrícia, a “mano”. Ela lembrava muito Letícia. De uma beleza ímpar, inteligente e de um bom humor invejável. Meu avô sempre dizia:

 

– Se achar uma mulher engraçada, case-se com ela.

 

Bem, resumidamente, ela era uma grande amiga, uma parceira, que se tornou mais que isso. Noivamos, e devo confessar que não existe nada mais constrangedor que a insegurança. E alguns de nós descontamos impiedosamente em quem apenas quer seu bem, em quem daria tudo apenas pra segurar sua mão, bem, eu a matei.

 

Ela não ria mais, não tinha mais aquela espontaneidade nos comentários, porque estava preocupada com o que eu pensava, preocupada em não me deixar em segundo plano. Ora, éramos um time. Então, eu a matei, nos matamos e nos casamos para selar o velório.