No Brasil, o tempo atual nos ensina: aparência é tudo. Descobriu-se que aparentar ser esconde mazelas e, acima de tudo, seduz os incautos. Aparentar ser preenche de nada a expectativa do manso.
Nesse processo conteúdo é um mero detalhe que pode ser, por que não, dispensado se o “rótulo ou a capa” do produto for bom. Sedutor. É muito menos do que o famoso “pão e circo”. É “sombra e farelo” que vem nos alimentando.
O pior de tudo isso é que mesmo tendo consciência do fato, os dados continuam a ser lançados a todo momento e o jogo não para. Quando se pensa que se tem o controle, logo descobre-se que tudo é nuvem de fumaça e o roto é o bobo da corte. A piada.
Na artificialidade das ações, caminha-se sobre areia movediça. Não há segurança na pisada. Tudo é desconhecido, ocultado. Nesse enredo, por mais que doa, mocinho aprende a ser bandido ao tender a replicar as mesmas ações que abomina.
Faz isso, por que não, como forma de defesa. Cria sua nuvem de fumaça, seus argumentos para justificar atos falhos. É como se fosse um dente aparentemente sadio por fora, mas que sofre com a dor da podridão que lhe consome por dentro.
A miopia social caduca os atos. Cria falsos valores, distorce o certo.
Por vezes, as lentes que nos são oferecidas para corrigir a visão estão viciadas e ao invés de corrigir, deturpam, ainda mais, a vista. Neste deserto, o certo é a incerteza.
Os oásis da moral – por mais sedutores e legítimos que possam parecer – são miragens. Alimentam a ilusão, a crença. Sem resolver de fato o problema: a sede. A necessidade da água que revigore e refrigere o espírito.
Neste circo das ilusões a verdade é aparente. É dono dela quem lança os dados, quem está com a mão cheia no jogo e alimenta nossas fantasias.
Escolher um lado é encher o peito de nada. É ser peça num joguete vil de desejos e expectativas. Utilizados para seduzir, iludir. Neste tabuleiro, bandidos e heróis estão numa mesma estação. Confundem-se.
O Brasil é este sonho surreal. Samba enredo de carnaval. Muito brilho e uma alegria efêmera que acabará em cinzas quando essa festa acabar.
Por sorte, todo fim traz, em si, um recomeço.