– Estou indo embora! – dito isto, levantou o pequeno Gustavo com uma só mão e pegou a mala com a outra.
Não, não era a primeira vez, mas desta vez ela o olhou nos olhos e não gritou – ele percebeu. Desta vez não berrou palavrões, não o agrediu e sequer chorou, apenas se despediu. Por infinitos três segundos ele ficou sem ação, quis segurá-la – se conteve.
– O que houve? – Perguntou, já sabendo.
Não respondeu.
Enquanto ela caminhava vagarosamente até a porta, ele vislumbrou um mundo sem brigas, sair com os amigos, sem cobranças e as exaustivas brigas que começam por nada, até que, no meio, se conseguisse um motivo para que ela ficasse ainda maior.
– Você quer sair por cima, você é uma dissimulada! – não pensou antes de falar.
Ela parou na porta, desceu o menino assustado e gritou. Gritou muito, culpou sua mãe por tê-lo protegido por toda vida, se culpou por ter casado nova, o lembrou de uma das supostas traições, apontou o dedo em sua cara e ele suavemente riu; agora ele sabia que ela não iria mais embora, que sequer atravessaria aquela porta. Tudo voltou ao normal e foram infelizes para sempre.