Rodrigo Dias

Se tem uma palavra na qual o brasileiro é craque é a tal da “crise”. Crises são tão frequentes e variadas que criamos certa intimidade com elas e, por julgar entendê-las, sempre se chega a soluções, em boa parte caseiras, para driblar os infortúnios gerados.

Seja crise econômica, política ou de valores, não há um só ano que essa palavrinha não ocupe um bom espaço em nossas vidas. Os impactos estão aí e afetam, em menor ou maior quantidade, a todos.

É bem verdade que boa parte das crises não são geradas pelo povo comum. Surgem de cima para baixo.  Para o povo comum resta pagar a conta ao final de tudo.  Por ser um país de dimensões continentais e de inúmeras riquezas, parece que muitos entendem que podem saquear o Brasil; pois ele sempre se restabelecerá pela sua grandeza.

Na prática não é assim que ocorre. Até nossas riquezas são finitas e a crise da moda, a hídrica, acentua isso. Quem, na casa dos 60 ou 70 anos, poderia imaginar que o Brasil, um dia, pudesse sofrer com o desabastecimento de água?

O que há décadas era problema exclusivo do semiárido nordestino, hoje afeta a madame numa cobertura lá no Morumbi. Logo no início da crise hídrica o problema era do céu, faltava chuva.

Agora, se tem a consciência de que o problema é bem mais amplo. O desperdício e o uso irracional da água agravam esse problema. Eu e você somos vilões. O banho demorado, a água que sai da torneira e vai para o cano sem ser utilizada e outros tantos exemplos nos fazem cúmplices desse desperdício.

E não é só água que vai para o ralo. Para chegar às residências ela passa por vários processos, desde a captação, tratamento e distribuição. Tudo com o seu valor para no final ser descartada, sem o seu uso correto. É verdade, e a crise hídrica faz subir o custo de vida. Diferente de outras crises, nesta temos responsabilidade direta.

Mas se há uma vantagem nas crises é que elas depuram quem é atingido por elas ou pelo menos deveria ser assim.  Neste sentido, vale dizer que nunca se falou tanto do uso adequado da água e sua economia. O brasileiro tem aprendido que o que parecia ser infinito tem fim, e que se não houver mudança de atitude ficaremos sem este bem.

O resultado de toda essa nova consciência que está sendo formada vai ter reflexos mais expressivos nas próximas décadas, e a reboque pode trazer à luz da discussão outros temas ligados a esta questão ambiental, como: o desmatamento e a poluição que tem, sim, correspondência com a crise hídrica que aí está.

Estudos revelam que mesmo que as chuvas sejam abundantes o quadro atual só será revertido daqui alguns anos. Dada a fragilidade em que se encontram os reservatórios que garantem água às cidades.

Daí a necessidade de manter a consciência no consumo. Quando se sofre na pele os efeitos de uma crise se aprende com ela. E no caso da hídrica ela revela que as riquezas naturais, em outros tempos abundantes, não suportam a falta de consciência.