Não se pode esquecer do que foi classificado como “chacina ambiental” e impedida por pressão de ambientalistas em 2023
O corte da árvore centenária na praça da Catedral, em Divinópolis, no Centro-Oeste de Minas, reacende uma discussão importante e necessária: o meio ambiente e a ausência de planejamento por parte da prefeitura. Bastou o assunto repercutir para a vice-prefeita Janete Aparecida (Avante) correr para as redes sociais, usando quase como um jargão da administração: “fake news”.
Embora haja justificativas para a medida, não há como negar a falta de planejamento para a arborização da cidade. A árvore estava doente, com galhos caindo e colocando em risco os frequentadores da praça. No vídeo, a vice-prefeita mostrou uma imagem de três meses antes, mas não mostrou a falta de planejamento ambiental.
É certo que, quando se retiram árvores sem um manejo adequado, há impacto no clima, na umidade e na temperatura. É preciso pensar no meio ambiente a curto, médio e longo prazo. Contudo, não é o que vemos enquanto respiramos fumaça e enfrentamos ondas de calor.
Para não nos esquecermos, Divinópolis é a cidade de Minas Gerais com o maior número de focos de incêndio. Os assuntos são diferentes, mas, ao mesmo tempo, se misturam. No final, tudo se reflete de uma única maneira para quem vive aqui.
Plano de arborização
Oportunidade para uma arborização mais planejada não faltou. Faltou prioridade. Em fevereiro de 2022, por exemplo, a deputada estadual Lohanna França (PV), à época vereadora, protocolou uma indicação pedindo que a Secretaria Municipal de Meio Ambiente estudasse a possibilidade de elaborar um Plano Municipal de Arborização Urbana, seguindo o Plano Municipal de Mobilidade Urbana e adequando os indivíduos arbóreos e as normas de plantio dentro da faixa de serviços nas calçadas públicas.
Na ocasião, ela já destacava os benefícios relacionados à estabilidade climática, conforto ambiental, melhoria na qualidade do ar, entre outros. Não é preciso ser especialista para compreender a necessidade de cuidar do espaço em que vivemos, mas é preciso ser um governante coerente e engajado com a pauta para executar ações que contribuam para enfrentar a “crise ambiental” que vivemos.
Um ano depois, em vez de planejamento, após pressão, o prefeito Gleidson Azevedo (Novo) retirou um projeto que permitia o corte de cerca de 200 árvores na região do Teatro Gravatá. A proposta foi classificada como “chacina ambiental” por ambientalistas, enquanto o governo usava a frágil justificativa de “desenvolvimento”.
Não é apenas sobre o corte de uma árvore centenária em Divinópolis
A supressão de árvores, mesmo que com embasamento, exige planejamento; caso contrário, a cada dia, a única imagem que teremos será a de “tapetes de asfalto”. Praças expostas ao sol que não proporcionam lazer, muito menos qualidade de vida. É preciso pensar em uma cidade verde que possibilite o desenvolvimento sustentável.
Para isso, há urgência em governantes que saibam alinhar o desenvolvimento ao meio ambiente. Uma cidade que oferece mais qualidade de vida aos cidadãos também se torna atrativa para investimentos.
Não é apenas sobre o corte de uma árvore centenária em Divinópolis. É sobre não permitir que as elites governantes continuem tapando os olhos para a ciência, para os avisos dos especialistas e até de lideranças dos movimentos sociais.