Prestação de Contas da Dictum do Hospital São João de Deus
A informação foi repassada durante prestação de contas (Foto: Amanda Quintiliano)

Amanda Quintiliano

Prestação de Contas da Dictum do Hospital São João de Deus

A prestação de contas foi no Ministério Público (Foto: Amanda Quintiliano)

A crise do hospital São João de Deus (HSJD) se agravou de forma gritante apenas em 2011, mas o lastros e indícios que de as contas não fechariam no azul surgiram bem antes, em 2003. Isso é o que mostra o relatório da auditoria realizada pela PricewaterhouseCoopers (PwC) e um levantamento realizado pela Dictum – empresa administradora da unidade e divulgado com exclusividade nesta quarta-feira (10).

Em 2003, o hospital já contava com um déficit financeiro muito tímido, de 0,598. Em 2004 e 2005 as contas fecharam no azul e voltaram a ficar no vermelho em 2006 se estendendo até 2008 quando houve uma nova recuperação. Em 2009, as contas ainda estavam equilibradas, já em 2010, um ano após o início das obras do “Novo Hospital”, o déficit despencou, atingindo R$ 9,4 milhões.

A situação se agravou ainda mais em 2011, quando todo o patrimônio do hospital não pagava os débitos. No ano seguinte, o ano fechou em déficit de R$ 13,9 milhões e em 2013 o valor foi ainda pior, de R$ 23,5 milhões. O sinal de recuperação surgiu apenas este ano, com a administração da Dictum. O déficit caminha para encerrar o ano em R$ 12,7 milhões. Isso significa uma economia de quase R$ 11 milhões.

Durante a prestação de contas, nesta quarta-feira (10), no Ministério Público, o diretor da Dictum, Aristón Silva, não se arriscou em atribuir à construção do “Novo hospital” a responsabilidade da crise. Disse apenas que o histórico não estava favorável para uma obra. Afirmou que quando ela foi iniciada, o São João de Deus já apresentava índices negativos que podiam ser comprometidos ainda mais com altos investimentos.

“Faltou planejamento, não teve estudo de viabilidade econômica. Só para se ter ideia, na pré-obra, um ano antes do prédio começar a ser construído, já havia um déficit de R$ 1,7 milhão”, afirmou, acrescentando que não havia nem mesmo todos os projetos, como hidráulicos e elétricos.

O levantamento feito pela Dictum compreende o período de 2003 a 2014. Durante esses 11 anos passaram pelo hospital seis administradores. Até 2004 era o Irmão Diamantino, até 2007 Irmão Roni, em junho de 2007 assumiu Ronan Pereira Lima que ficou a frente da superintendência até março de 2012. Até agosto do ano passado, a administração ficou por conta de Euler de Paula Baumgratz. Logo em seguida assumiu uma equipe da Dictum.

 

Levantamento de 2003 a 2014 do patrimônio e do superávit/déficit anual

Levantamento de 2003 a 2014 do patrimônio e do superávit/déficit anual

Expectativas

Para 2015 os números podem ser mais positivos. Foi publicado este mês o repasse da Rede Resposta (R$ 200 mil/mês) e dos 20 leitos da Unidade de Terapia Intensiva (UTI), estimado em R$ 270 mil/mês. A previsão é de os recursos serem depositados para o hospital no final de janeiro do próximo ano, entrando nas contas de fevereiro. Isso vai depender do governo federal.

Prestação de contas foi para a comissão de saúde da Câmara

Prestação de contas foi para a comissão de saúde da Câmara

Hoje, também houve avanço em mais uma etapa para renegociar o empréstimo de R$ 50 milhões. Uma equipe do deputado federal, Jaime Martins (PSD) esteve com representantes da Caixa Econômica Federal (CEF), em Brasília. Caso, a renegociação seja aprovada, os juros anuais cairão de 14% para 4,5%. Isso significará R$ 400 mil a mais todos os meses.

Esses valores somados chegam a R$ 870 mil e irão amenizar o déficit mensal. De acordo com a prestação de contas feita nesta quarta-feira (10) à Comissão de Saúde da Câmara de Divinópolis, o déficit mensal caiu de R$ 1.350 milhão para R$ 1.270 milhão no último mês. Abatendo os R$ 870 mil que podem sair até janeiro, este débito cairá para R$ 400 mil.

Outros repasses estão previstos, como a Rede Cegonha, em R$ 402 mil. Ainda não há data definida para o repasse do Ministério da Saúde. A expectativa é que não ultrapasse março do próximo ano. O montante será suficiente para equilibrar as contas. A data correta deverá ser divulgada na próxima sexta-feira (12), quando o Ministério Público receberá uma resposta de Brasília.

Dívida

A dívida continua em aproximadamente R$ 120 milhões. De acordo com dados divulgados com exclusividade, nesta quarta-feira (10), a auditoria da PwC apontou que o débito bancário somava cerca de R$ 84 milhões, já o total, incluindo fornecedores, folha de pagamento, chegava a R$ 104 milhões.

Os R$ 120 milhões atuais englobam todos os débitos do hospital, incluindo fornecedores e profissionais. Como há um déficit mensal de R$ 1.270 milhão, atual, essa dívida aumenta mensalmente.

A auditoria continua com o Ministério Público Federal e até o momento não houve definição se será instaurado um inquérito. Até lá, o documento não poderá ser divulgado, pois há uma cláusula de confidencialidade.