Para muitos, a crise financeira que o Brasil atravessa – e que deve se estender até o início de 2017 – traz mais do que comprometimentos econômicos. Esta avaliação não é minha, mas de muitos estudiosos ligados à área da psicologia e sociologia.

 

 

rodrigo (1)

O fato de vivermos numa sociedade de consumo e que em boa parte dos casos o “ter” vem muito antes do “ser”, a crise pode levar uma parcela significativa da população a um estado de depressão por não poder mais adquirir, com a mesma rapidez de antes, um determinado bem de consumo.

A explicação da psicologia é que determinadas pessoas buscam a ascensão social por meio da aquisição e apresentação dos seus bens. A ostentação, neste caso, é uma forma de demonstrar certo poder e, portanto, superioridade.

Com o poder de compra reduzido, a ostentação fica cada vez mais difícil de ser feita e revela a fragilidade do “ser”. Além dos aspectos econômicos que já conhecemos, a crise revela também a necessidade do indivíduo voltar para outras questões internas e que vão lhe dar sustentação principalmente em momentos de dificuldade.

Além de focar na necessidade de economizar, priorizar gastos e maximizar o dinheiro que cai no bolso; devemos nos voltar para o questionamento do padrão vigente: o consumo pelo consumo. Ou seja, o indivíduo tem que ter acesso àquilo que realmente precisa e não sofrer por não adquirir o que deseja simplesmente para ser aceito por ele mesmo e pela sociedade em que está inserido.

Com tantos apelos estimulando o consumo fica difícil pensar nesta situação. Mesmo assim, a situação defendida no parágrafo acima, é um exercício que deve ser incentivado até como forma de poupar e não se sentir deprimido por isso.

A verdade é que temos a tendência de sempre consumirmos, além das nossas necessidades por sermos induzidos assim de várias maneiras e por não termos a devida noção de valor. Seja ele mercantil ou não. Com a crise, tendemos a voltar para o que é essencial.

Existem pessoas que tiram essa situação de letra: se desapegam fácil do que é material e não sofrem com isso. Outras, não. Além de um educador financeiro, estas vão sentir a necessidade de contar com o auxílio de um profissional que trabalhe com elas questões internas para perceberem que o significado do “ser” não é menor que o “ter”.

Obviamente que isso não justifique a crise. Como se ela fosse necessária para esse tipo de epifania na sociedade de consumo. Afinal, o equilíbrio financeiro é fundamental para a prosperidade da sociedade e do indivíduo que nela está inserido.

O que se aponta é algo maior e que fica latente nesses períodos de recessão. E que deve ser objeto da nossa reflexão diária. Como já bem diz a filosofia: são em momentos de provações que as grandes descobertas são reveladas.

Portanto, até que a crise passe é oportuno aproveitar o momento para exercitar outro lado esquecido. Cultivar, por exemplo, a solidariedade e a sobriedade. Entender que ter “pouco” é diferente de não “ter” nada. E que o “ser” sempre será o principal aspecto do homem. Na bonança ou falta dela.