Amanda Quintiliano
Sem uma resposta do Conselho Regional de Medicina (CRM) de Belo Horizonte os médicos da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) estão à beira do limite. Já são três meses de salários atrasados, falta de materiais, corredores superlotados. A denúncia foi feita pelos profissionais que preferiram não se identificar e confirmadas pelo diretor, Marco Aurélio Lobão ao PORTAL nesta terça (31).
Os médicos disseram que foram “esquecidos”. Desde o dia 19 de outubro eles aguardam a decisão do CRM sobre a interdição ética da unidade. Porém, até a data de hoje a votação em plenária não foi permitida pelo presidente, Fábio de Castro Guerra e nenhuma posição oficial foi repassada à categoria.
Dados sobre óbitos, repasses, fornecedores foram solicitados pelo CRM, segundo o conselheiro local, Jorge Tarabal. A preocupação seria o modelo de interdição adotado. As informações colhidas pelos fiscais em visita a UPA não foram suficientes para convencer o presidente da entidade, apesar de ter sido constatado um ambiente impróprio para o trabalho.
“Semana passada a plenária discutiu sobre isso, estamos colhendo mais dados para tomar uma decisão consciente. Estamos definindo como poderá ser feito esse indicativo”, afirmou Tarabal.
As próximas reuniões dos conselheiros serão nos dias 9 e 10 de novembro. Por enquanto, não há previsão de votação. Para alguns médicos, há interferência política barrando a apreciação da interdição. Tarabal negou.
“Não tem questão política. Isso é técnico e ético. Não nos guiamos por decisões políticas”, enfatizou.
Denúncia
Médicos relatam que durante uma semana, quando os gargalos envolvendo a UPA ganharam a mídia em setembro, a situação amenizou. Porém, não demorou para o caos reestabelecer.
“A gente não pode fazer nenhum movimento enquanto o CRM não der nenhuma resposta. Tem uma força política que está segurando essa resposta”, salientou um dos médicos contratados na unidade.
Medidas
Até agora as medidas divulgadas para tentar amenizar a situação não foram colocadas em prática. A única coisa feita foi a distribuição de folhetos orientando a população em quais casos procurar a UPA. A ideia era direcionar esses pacientes para os postos de saúde quando chegassem à unidade. Para isso, a direção ainda aguarda decisão da Atenção Primária.
Essa seria uma alternativa paliativa. Outra opção é a ampliação de leitos no Hospital São João de Deus, porém para atendimento aos casos de média complexidade.
“O São João de Deus é o hospital que está sendo financiado e deveria responder pelo município, mas ele está mais focado na alta complexidade, pois falta condições do hospital receber os pacientes de média complexidade. Teria que fazer um investimento no hospital para construir novos leitos. Está é a estratégia que está ventilando, mas não seguiu”, explica Lobão.
O HSJD é o único credenciado a receber alta complexidade na região. Por isso, não há como ele abrir mão de leitos para atender a média.
“Se ele não atender a alta seria muito pior”, enfatiza.
A solução definitiva é a conclusão do Hospital Público Regional. A unidade com obras paradas há um ano será voltada para a média complexidade. Entretanto, não há previsão para inauguração. A construção é apenas um dos desafios. Ainda resta equipar e definir o modelo de custeio e gestão.
“Enquanto isso o governo do Estado faz propaganda que Minas não falta dinheiro, que não parou, mas não fala em acabar o hospital público”, completa.
Estado
A Secretaria de Estado de Daúde de Minas Gerais, por meio da Superintendência Regional de Saúde em Divinópolis, informou que há 10 parcelas em atraso da contrapartida estadual para a UPA de Divinópolis no valor de R$ 125 mil, totalizando R$ 1.250 milhão.
“Esclarecemos que o Estado de Minas está se empenhando para normalizar os pagamentos e que estes estão sendo quitados na medida em que há disponibilidade financeira”, informa.
Quanto ao Hospital Regional, ela reforçou que há um saldo de R$14 milhões do segundo convênio. A utilização do saldo remanescente aguarda o processo licitatório da prefeitura de Divinópolis, responsável pela contratação da empresa vencedora do certame e que irá dar prosseguimento à obra.
Posição
A reportagem tentou contato com o CRM em Belo Horizonte e com a Secretaria Municipal de Saúde, porém até o fechamento desta matéria não obtivemos respostas para os questionamentos feitos.