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-Nois quiria só um pé-de-meia mermo, sabe? Um trem diferente pra cumé, num sei, caprichá no fim de semana; mortadela, frango ensopado ou aquele monte de coisa no macarrão. Deus mi livre de sopa de fubá, mamãe faz todo dia. Grão de bico – gosto não. Oi? Num intendi, dotô. Não, não, nois é quatro irmão, sô o mais véio.

 

Dá um copo d’agua?

 

A porta naum tá trancada. Num passei aquele cabo de vassôra atráis que a mãe pidiu. O cachorro tá preso, não tranquei o cadeado do portão e o lampião tá aceso. Ela vai daná, me ajuda?

 

Oia, eu num quiria chora, discupa. Toma o copo, brigado.

 

Os mininu tava no sinal, a Mariinha na porta da mercearia e eu…

 

Discupa, de novo.

 

Eu nunca fiz isso, juro, era só um cadim de doce gelado, eu sei, num é meu, mas o manim disse que era gostoso, que o cara do carro grande tinha dado pra ele. Foi um cadim só.

 

Ela chegou?

 

Nossinhora, discupa, discupa!

 

Mamãe não vai discupá, eu naum quiria chora, dotô, deixa vê ela? Era só um trem diferente, num quiria magoá ninguém. Era surpresa, deixei la na mesa e até forrei com o pano novo de brinde do botijão. Os mininu não chegava, a Mariínha tava atrasada e o doce gelado começou a escorrer na minha mão. Mamãe ia ficar brava, limpei com o pano moiado do banheiro e quando chamaram no portão, achei que era um dos meu irmão.

 

Eu só quiria um pé-de-meia – era o que papai sempre dizia, antes de ir embora. Eu vi ele saindo e soube que era pra sempre, quando vi que não trancou o portão.

 

Ela veio mi busca? Fala pra ela que eu fiz um erro, dotô, mas num vou fazê mais naum. Eu quiria doce gelado e que o pai vortasse, mais pela mamãe, ela num ta bem não. A sopa tem gosto de lágrimas, a gente até toma de bom grado, o duro é ver ela buscar com os zoio arguém no portão.