Pedaços de tecido que embalam o instrumental cirúrgico do Hospital Sâo João de Deus eram descartados, indo parar no aterro sanitário de Divinópolis. Em dificuldades financeiras, a instituição filantrópica, fundamental  na rede de saúde pública do município de 228.643 habitantes, gastava dinheiro na compra de jalecos descartáveis para os médicos e enfermeiros atuarem no bloco cirúrgico. Há quatro meses, o desperdício acabou. Os pedaços de pano são emendados nas máquinas de costura do Presídio Floramar, da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds), e viram jalecos e embornais para instrumental cirúrgico.

“O material produzido é impermeável e proporciona segurança aos profissionais que atuam nos leitos de isolamento”, destaca Graziele Lemos, responsável técnica pela comissão do Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde (PGRSS) do Hospital Sâo João de Deus.  

Nove presos do Floramar entregam 1,3 mil jalecos por mês para o São João de Deus. Considerando as dificuldades financeiras da instituição, o juiz corregedor e de execução criminal da Comarca de Divinópolis, Francisco de Assis Corrêa, autorizou a instituição a remunerar apenas dois detentos, no valor de três quartos do salário mínimo, como prevê a Lei de Execução Penal. O restante trabalha em troca de remição de pena, com desconto de um dia a cada três trabalhados.  

Foto: Marcelo Sant'Anna/Imprensa MG

Foto: Marcelo Sant’Anna/Imprensa MG

Segundo o juiz, há uma harmonia com a direção do sistema prisional da região para gerar novas oportunidades aos detentos e cumprimento humanizado das penas.  “Esse projeto atende as diretrizes da Lei de Execução Penal, que prevê o trabalho de presos, sobretudo no semiaberto. Além de remir a pena, o detento também recebe uma oportunidade de ressocialização” destaca Corrêa.

A diretora-geral do Presídio Floramar, Elisabete Pinheiro Fernandes,  observa que a parceria com o hospital tem um caráter pedagógico para os presos. “Além da remição de pena e da qualificação para o trabalho, eles contribuem para o meio ambiente e ajudam uma instituição que presta um serviço relevante para a população de Divinópolis”, diz, observando que presos já separam todos os materiais recicláveis do lixo do estabelecimento prisional.

Polo de confecções

A parceria com o Hospital São João de Deus é parte da inserção do Presídio Floramar no dinâmico e tradicional polo de confecção de Divinópolis. Das máquinas de costura do estabelecimento prisional saem, mensalmente, 9 mil lençóis para o sistema prisional de Minas Gerais, por exemplo. São 48 homens e 12 mulheres ocupados.

Conta muito para o sucesso dessa linha de produção a experiência de pessoas como José Adelmo, fornecedor de serviços para grandes confecções  antes de ser preso, 20 anos atrás. Já perdeu a conta dos detentos que treinou no Floramar. Ele não só costura. Dá manutenção nas máquinas, graças a cursos que teve a oportunidade de fazer no sistema prisional de Minas Gerais. “Aqui me sinto útil, produzindo e ajudando outros presos a produzir”, afirma.