Rodrigo Dias
Antes de começar a definir e a escrever o artigo desta semana escuto no rádio um comentário interessante: a atual crise brasileira (considere aí crise como a política, a institucional e a econômica) tem dois lados bem definidos. O lado dos que estão de dentro e dos que estão de fora.
Quem está do lado de dentro se contorce, brinca com a verdade e zomba da inteligência de quem está de fora. O que antes era feito à surdina agora é feito às claras, com direito a áudio e vídeos e mesmo sendo pego com o “batom na cueca” tem santo jurando inocência.
Mas nada causa mais indignação do que ver a justiça, nos seus mais altos tribunais, passando recibo ao que de podre está aí. Numa engenharia jurídica sem precedentes, criam teses e sustentam os poderosos no poder. Fazem isso sem ruborescer.
Tanta condescendência com quem pratica crimes pode ser sinal de uma justiça enrolada. Presa neste esquema de corrupção e desmandos. Fica difícil pensar o contrário quando quem deveria julgar a favor do Brasil julga contra.
Quem está do lado de fora desse jogo anda desesperançoso. Sofre com a falta de emprego, saúde, segurança e muito mais. O Estado, por meio das suas instituições, quebrou o pacto de confiança com o povo.
Num povo descrente da justiça não seria incomum nascer o sentimento de justiça com as próprias mãos. Tatuar na testa de todos que lhes faltam ou afanam o adjetivo de ladrão, entre outros tantos.
É a ausência do aparato do Estado, e principalmente da justiça, que faz despertar essa sanha de justiceiro. É neste ambiente que proliferam, por exemplo, os black blocs que tiram do cidadão a racionalidade. “Se eles podem, eu também posso tocar o terror”; pensam.
Por incrível que pareça, o cidadão de bem que está do lado de fora dessa crise, que mais do que tudo é moral, fica desprotegido. Sem direitos, sem justiça ou o que lhe valha. Quem está no esquema, está protegido.
Num dos meus artigos anteriores escrevi:
(…) Num momento de tanto conflito e de tantos interesses, explícitos ou não, é necessário se recolher à individualidade e pensar. Se for para ser uma engrenagem do sistema que seja, então, a mais ruidosa. A inconformada, a que aponta que há um problema. (…)
Sigamos.