Ô Noel, tudo massa com você? Pois é, meu caro, este ano não foi fácil. Eu entendo o seu lado, por isso não o esculacho. A crise está aí, o real minguou e o pessoal freou nas compras. É desse jeito. Não há hohoho que dê jeito. Ninguém quer gastar já pensando nas contas que chegarão com o ano novo. Assim, bom velhinho, você também vai perdendo a sua utilidade.
Essa carinha simpática, vermelha e roliça, já não vende como tempos atrás e, no máximo, atrai mesmo é uma fila enorme de crianças birrentas que morrem de medo de você, mas os pais insistem que elas façam a foto contigo.
Eles, os pais, já viveram outros natais em que você era vedete. Agora, tem criança no útero da mãe já desconfiando da sua existência. Compraram o argumento de que Papai Noel é um produto criado para vender. Fruto de um mundo capitalista que já viveu seu apogeu em outros tempos.
Ao ler essa minha carta, Noel, você pode até sentir uma ponta de despeito. Mas o fato é que de mim já esqueceram faz tempo. O Natal, meu caro velhinho, era para ser uma festa em minha homenagem. Afinal, aniversário é sempre uma data importante.
Durante um tempo até foi assim, admito, mas agora a concorrência é grande e você teve grande culpa nisso. O povo trocou a “presença” pelo presente e a comunhão pela reclusão. Eu fui minguando.
Para piorar, quando há recessão e conta pra pagar, o pessoal aqui vai ficando desesperançoso. E, neste caso, não há espírito de Natal que dê jeito. Lata vazia e a carteira sem dinheiro se sobrepõem à fé.
Tem gente por aí que me acha bobo. Um personagem criado como você, Noel. Suas crenças e seus valores estão a serviço de outros. O indivíduo está dividido da sua essência. Uma insensibilidade tamanha que impossibilita ver a força do invisível. Sem essa crença o meu “mundo” sucumbe.
Pois é, Noel, acho que já falei muito e reclamei demais. Este desabafo é fruto do stress de um ano todo de frustrações com o homem. Tem problema não, logo passa. Enquanto houver um ser vivo há salvação, é só me deixar habitar no seu coração. Neste tempo e durante o ano todo. Já me sinto revigorado.
Se me permite tirar uma “casquinha”, meu nobre velhinho, essa é uma diferença fundamental entre mim e você. Você é cria do homem para uma época restrita do ano. Eu sou sopro divino e estou aqui o tempo todo.
Quer saber, desejo sorte pra você, viu, e que tenha natais mais farturentos nos próximos anos. Quanto a mim, não se preocupe. Mesmo que se esqueçam eu estarei aqui e em todas as coisas. Nascendo em cada coração que tenha fé. Quando isso ocorre fico em júbilo.
Crer, perdoar e amar. Essas são as bases dos meus ensinamentos, e todas as vezes que alguém experimentar uma delas é a mim que está sentindo.
Feliz Natal!