Talita Camargos
Especial para o Portal Centro-Oeste
Mesmo com a chamada lei das cotas, inserir-se no mercado de trabalho ainda é difícil para pessoas com deficiência. Segundo levantamento do portal mantido pela Secretaria de Direitos Humanos, baseado no censo do setor de 2010, as empresas alegam que os candidatos que se enquadrariam nas cotas não possuem a qualificação necessária, o que também acontece para outros postos de trabalho ociosos, apesar de a pesquisa mostrar que muitos têm qualificação e mesmo assim não conseguem um emprego. Para diminuir esta lacuna, a Associação de Deficientes do Oeste de Minas (Adefom) mantém parceria com o Cecon desde 2011. Atualmente, cinco associados fazem algum curso técnico na instituição.
João Paulo de Mendonça, de 29 anos, cursa automação. Anteriormente ele passou pelos cursos de farmácia e informática. O jovem, que é cadeirante, concilia os estudos técnicos com a faculdade de Engenharia Civil. Ele que tem um perfil de buscar cada vez mais conhecimento, tem um sonho ainda maior.
“Meu objetivo é passar em um concurso, vou estudar até ser aprovado para conseguir estabilidade e um bom salário”, conta.
João Paulo disse que no mercado foi bem recebido quando fez estágio em uma farmácia.
“Não tenho nada a reclamar das pessoas, o problema era o local, sem acessibilidade, com prateleiras altas e outros obstáculos”, conta.
A ex-aluna do Cecon com baixa visão, Daniela Fátima da Paz, de 27 anos, cursou segurança do trabalho, fez um estágio na área e não parou de estudar depois de concluir o técnico. O objetivo agora é entrar em uma faculdade e ser aprovada em um concurso público. Apesar da deficiência, ela supera os obstáculos do dia a dia, mora sozinha e tem certeza de que conseguirá uma vaga também.
“Foi muito bom fazer o curso, aprendi bastante e me ajudará em qualquer área, aprendi primeiros socorros e outros procedimentos muito válidos”, afirmou.
O colega cadeirante Valdeci Antônio da Silva, 49 anos, viu no curso técnico a possibilidade de encontrar uma ocupação. Sem trabalhar desde um acidente, há 13 anos, ele conta que um amigo indicou o curso baseado no perfil dele.
“Eu gosto de desenhar e da área civil, um setor forte em Divinópolis. Um amigo técnico em edificações disse que eu poderia optar pelo curso, que me possibilita fazer projetos até em casa”, afirmou.
Inserir no mercado
Segundo o psicólogo da Adefom, Richard Tavares, a associação pensa em maneiras de inserir os associados no mercado de trabalho e em sistemas de ensino de maneira ampla. Cada caso é analisado e o encaminhamento correto é realizado. De acordo com ele, como todo ser humano, as vontades são diversas: alguns almejam empreender, outros cursar uma faculdade, um curso técnico ou prestar concurso.
“A visão que tenho é que quanto mais eles se qualificarem, mais chances terão de encontrar um emprego”, falou.
Ele ressaltou que historicamente a pessoa com deficiência encontra dificuldade para se inserir no mercado de trabalho, mas estudar é uma das formas de diminuir os obstáculos. Richard ainda contou que muitos dos associados que cursam algum técnico no Cecom conseguem sair empregados de lá.
Outra avaliação feita pelo psicólogo é sobre os empecilhos físicos que o aluno pode encontrar.
“Só são feitas as adequações quando há demanda, receber os estudantes com deficiência já é um passo importante. Além disso, não é preciso que seja tudo acessível, seria o ideal, mas a pessoa não transita por todo prédio”.
Segundo a assessoria do Cecon, o espaço é acessível, há rampas e outros itens que facilitam o ir e vir dos estudantes. O colégio estuda, inclusive, oferecer o curso de Língua Brasileira de Sinais em breve.