Divinópolis virou o epicentro de uma disputa silenciosa e cada vez mais estratégica. As articulações para 2026 já estão em pleno andamento

Nem lá, nem cá. Cada passo dos Azevedos é calculado. Engana-se quem ainda acredita que se trata de improviso. Enquanto o prefeito Gleidson Azevedo (Novo) – irmão do senador Cleitinho (Republicanos) preferido ao governo de Minas nas eleições de 2026 – ensaia um discurso “suprapartidário” e recorre ao PT para destravar o Hospital Regional, na base local, sua tropa de choque cumpre a missão de apagar qualquer mérito do governador Romeu Zema (Novo).
O discurso de que “política se faz nas eleições” pode soar bonito e é necessário, mas em véspera de ano eleitoral, não convence nem os mais ingênuos. Gleidson tomou a frase para si como justificativa para se aproximar do PT sem se desgatar com a extrema direita, onde caminha com tranquilidade.
Enquanto isso, vereadores – membros da tropa de choque – fizeram um trabalho sujo: atacaram e tentaram desacreditar as principais lideranças petistas de Divinópolis: o vereador Vítor Costa (PT) e a secretária nacional de finanças do PT, Gleide Andrade. Os dois, responsáveis pela comitiva que levou lideranças políticas à Brasília, na semana passada, para destravar o hospital regional.
As críticas ao PT pelos vereadores vieram também de outras formas, para além do hospital regional.
Divinópolis virou o epicentro de uma disputa silenciosa e cada vez mais estratégica. As articulações para 2026 já estão em pleno andamento, e os Azevedos jogam com as duas mãos.
Mateus Simões x Cleitinho
O senador Cleitinho (Republicanos) é apontado como um dos possíveis nomes ao governo de Minas. Ainda não oficializou, mas pode fazê-lo até o fim do ano. À sombra dele, o vice-governador Mateus Simões, que deixou o Novo e migrou para o PSD, tenta se consolidar como o nome da direita mineira. Para isso, precisa convencer Cleitinho a desistir da corrida ao Palácio Tiradentes e, de quebra, obter seu apoio.
Essa disputa repercute diretamente em Divinópolis. Os vereadores ligados aos Azevedos, uma verdadeira tropa de choque, têm se dedicado a esvaziar qualquer reconhecimento ao governo estadual, mesmo em pautas que deveriam motivar a união, como a conclusão do hospital regional. A obra, iniciada há 15 anos, carrega o peso de quatro governos que se sucederam sem entregá-la à população. Zema, gostem ou não, avançou na tentativa de finalizar o projeto.
Guinada brusca contra Zema
De uns dois meses para cá, tornou-se raro assistir a uma reunião da Câmara de Divinópolis sem ouvir o nome do governador, sempre cercado de críticas. Uma guinada brusca, orquestrada para desgastá-lo politicamente. Nem mesmo a confirmação da doação do imóvel para União, veio sem ataques à Zema, que vale lembrar também é pré-candidato a presidente da república. Os aplausos ficaram para os Azevedos. Um ou outro, embora tímito, deixou escapar quem verdadeiramente liderou o movimento em Brasília.
O objetivo é claro: enfraquecer Zema, que é o principal financiador da candidatura de Mateus Simões.
Mateus Simões ainda não alcançou dois dígitos nas pesquisas, mas tenta se manter competitivo. Do outro lado, o movimento na terra dos Azevedos, faz de tudo para que ele não cresça. Hoje, Cleitinho aparece no topo da maioria dos levantamentos internos, e o grupo sabe que o tempo de manobra é curto. Ainda há nomes como o do deputado federal Nikolas Ferreira (PL) e do ex-prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PDT).
O jogo é duplo. Um “morde e assopra” com o governo petista. Uma aproximação estratégica, onde o lucro político está em deixar o governo federal aparecer como “pai” do hospital, e não o governo de Minas. Tanto que Gleidson, mesmo filiado ao partido de Zema, preferiu recorrer à secretária nacional do PT, Gleide Andrade, do que conversar diretamente com o governador.
Com o pedido do prefeito, Gleide, que é de Carmo do Cajuru e figura importante na cúpula petista, articulou uma comitiva a Brasília. Passou por ministérios importantes, levou o tema à pauta nacional e, assim, fez com que a parte burocrática destravasse.
Em discurso recente, Gleidson chegou a elogiar o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, chamando-o de “melhor ministro do país”. A aproximação soa, no mínimo, estratégica.
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Eleições 2026: Cleitinho e as articulações
Os Azevedos querem se firmar como donos dos próprios mandatos. A declaração de Cleitinho, de que não apoiará candidato do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), causou desgaste entre bolsonaristas. Além disso, soma-se ao desgates com Eduardo Bolsonaro (PL).
O senador tenta se eleger antes da eleição. Força o partido a lançá-lo ao governo. Para isso, como de costume, busca transitar entre os dois mundos, direita e esquerda. Sabe que, se houver dois nomes de direita, precisará dos votos da esquerda para vencer. Por isso, os irmãos como pontes são importantes, garantindo trânsito livre e, ao mesmo tempo, negando vínculos diretos.
Além de Gleidson, o clã conta com o deputado estadual Eduardo Azevedo (PL). Nos bastidores, há quem diga que os “afagos” recentes têm endereço certo: as eleições de 2026.
Num eventual segundo turno com Mateus Simões, Cleitinho, por exemplo, tentaria fazer com que o PT o apoiasse, uma hipótese que ainda soa especulativa e improvável, mas que ganha força nos corredores políticos.
O PT, até agora, tenta convencer o senador Rodrigo Pacheco – que tem a vaga ao Supremo Tribunal Federal (STF) nas mãos – a disputar o Governo de Minas. Sem Pacheco, ainda não há um nome definido, mas deverá construir uma aliança para chapa alternativa à direita.
Tome nota
É fato: toda mobilização em torno do Hospital Regional é legítima e necessária. A população espera há 15 anos por uma unidade que funcione, salve vidas e cumpra seu papel social.
Mas é preciso olhar com lupa o contexto. No jogo político, nada é ingênuo. E, quando os ataques partem em coro, é sinal de que há uma estratégia em curso.
Nesta história, até aqui, há dois protagonistas: o governador Romeu Zema (Novo) que prometeu e entregará a obra, assim como o presidente Lula (PT), que se comprometeu em coloca-lo em funcionamento. Também uma promessa de campanha em 2022.
Em meio a eles, há vários interlocutores importantes e necessários. Vale reconhecer o próprio prefeito Gleidson, a deputada estadual Lohanna França (PV), o deputado federal Domingos Sávio (PL), Gleide Andrade. Mas, poucos são os vereadores de Divinópolis. Quanto mais crítico, menos atuante e mais pau mandado. Para ver quem são, basta ligar na TV Câmara.



