Elis Regina em trecho do vídeo (Foto: Reprodução)

Elis Regina detalha falha, descreve auxílios oferecidos às famílias e afirma demissão de colaboradores

Ricardo Welbert

Com informações de Amanda Quintiliano

A diretora-presidente do Complexo de Saúde São João de Deus (CSSJD), Elis Regina Guimarães, reconheceu, na tarde desta terça-feira (22/6), erros do hospital que levaram à troca dos corpos de duas mulheres que morreram no hospital vítimas de Covid-19. Em vídeo, ela descreve os procedimentos padrão adotados para liberar corpos de pacientes a funerárias e especifica onde ocorreu a falha. 

“Nesta madrugada, de 21 para 22 de junho, no Complexo de Saúde São João de Deus, infelizmente aconteceu um evento em que não podemos deixar de nos pronunciar, em respeito às famílias. Nós tivemos dois óbitos por Covid-19, de duas mulheres. Elas foram devidamente identificadas pela nossa equipe de enfermagem, onde a rotina é: colocar no peito o nome da pessoa, colocar no tornozelo o nome da pessoa e, após, o corpo ser devidamente acondicionado, conforme as normas sanitárias necessárias para a questão da Covid-19. Uma terceira identificação é colocada por fora desse invólucro de plástico, todo preparado, para que as pessoas não tenham que abrir esse invólucro e ter que identificar o corpo. Lamentavelmente, num erro de processo, essa identificação dessas duas mulheres não correu nesse terceiro momento, que seria a identificação desse invólucro”.

Ainda conforme a presidente, no momento em que a funerária, durante a madrugada, foi buscar um corpo para outra cidade, a equipe responsável pela liberação do corpo no hospital não se atentou à questão da terceira identificação, que seria a do invólucro.

“Lamentavelmente, o corpo que foi levado para outra cidade foi o corpo de uma divinopolitana. No início da manhã isso foi identificado. As providências começaram a ser tomadas. Eram muitas coisas a serem feitas. Nós chamamos uma funerária terceira, porque a família não queria, efetivamente, que a funerária dessa cidade trouxesse o corpo. Então, nós contratamos uma funerária terceira. Kits de segurança para covid-19 foram disponibilizados a quatro membros da família, para que eles, pessoalmente, fossem a essa cidade, levados pelo nosso motorista, para poderem identificar o corpo e esse corpo será trazido, bem como o outro será liberado para a outra cidade ainda hoje, para que os velórios aconteçam”.

Demissões

Elis Regina destaca que não há nada que justifique a falha por parte da equipe do hospital. 

“Infelizmente, não tenho o que justificar neste erro. É um erro efetivamente grave. Mas, todas as providências estão sendo tomadas para que não aconteça novamente. Dentre elas: já foi feita a identificação dos colaboradores responsáveis pelos erros. Esses serão desligados, hoje ainda. Além disso, a minha equipe assistencial e a minha equipe de qualidade já estão reunidos para que sejam refeitos os protocolos e os procedimentos padrão, para que exista uma segunda checagem na liberação dos corpos”.

De acordo com a presidente, esse novo procedimento, que deverá ser adotado em todas as liberações de corpos, evitará que o erro se repita. 

“Me coloco no lugar das duas famílias. Não tem o que eu diga que possa suavizar toda essa situação. A única coisa, nesse momento, que o São João de Deus efetivamente pode fazer é tomar todas as providências para que isso não aconteça. E pedir desculpas pelo que aconteceu às duas famílias, bem como à população de Divinópolis. E garantir, efetivamente, que isso não voltará a acontecer”.

Serviço Municipal do Luto detectou erro

A Prefeitura de Divinópolis também se manifestou sobre o caso na tarde desta terça. 

“Na manhã desta terça-feira (22/6), o Serviço Municipal do Luto foi acionado pela família de Júnia Máximo para realizar o sepultamento da mesma. Por volta das 9h40, uma unidade do Serviço do Luto se dirigiu ao Complexo de Saúde São João de Deus, com a finalidade de realizar os trâmites. Ao chegarem no referido hospital, foi solicitado aos agentes do Serviço de Luto que aguardassem, pois funcionários da unidade hospitalar estavam com dificuldade para localizar o corpo”.

Por causa da demora, explica o Município, os agentes do Serviço de Luto foram a outro hospital, para translado de outro corpo, para sepultamento. Eles teriam informado aos funcionários do CSSJD que logo que o corpo fosse localizado, iriam voltar para realizar o translado e sepultamento.

Júnia Máximo foi assessora parlamentar (Foto: PMD/Divulgação)

“Já no período da tarde, desta terça-feira, após ser acionada pelo Serviço de Luto e também por familiares da pessoa falecida, a vice-prefeita de Divinópolis, Janete Aparecida, imediatamente foi ao São João de Deus, acompanhada do assessor especial do gabinete do prefeito, Fernando Henrique, e do Secretário Municipal de Serviços Urbanos, Gustavo Mendes, responsável pelo Serviço Municipal do Luto.

Após apuração preliminar dos fatos, Janete, Gustavo e o gerente do Serviço de Luto fizeram contato com responsáveis por serviço funerário da cidade de Pitangui e apuraram que o corpo da senhora Júnia Máximo havia sido levado pela funerária daquela cidade, onde teria sido erroneamente sepultado. Depois descobriu-se que o município correto foi Conceição do Pará. 

“Tal constatação somente foi possível porque um familiar da senhora Júnia exigiu uma foto e identificação do corpo. A direção do Complexo de Saúde São João de Deus admitiu o erro. Janete esteve com os familiares, prestando solidariedade e apoio, colocando o Município de Divinópolis à disposição”.

Desespero da família

Os familiares ficaram sabendo da troca enquanto aguardavam o corpo chegar para o sepultamento. Previsto para as 10h, a funerária comunicou que seria adiado para as 13h, pois o corpo não teria ficado pronto. Eles então, foram para a casa.

“Minha tia foi até ao hospital. Chegando lá, foi descobrir. Pediu para ver o corpo, porque bateu a dúvida”, relata a filha Ana Lívia Máximo Araújo.

Uma foto foi tirada para a identificação. A filha e outros familiares já estavam no cemitério novamente, quando foram informados de que o corpo havia sido levado, inicialmente, para Pitangui. Depois, foi confirmado que o destino foi Conceição do Pará.

Os familiares foram levados pelo hospital até Conceição do Pará. Lá, foram para delegacia saber quais procedimentos seriam adotados. Até então, havia dúvida se o corpo que estava enterrado em Santana da Prata, zona rural, era realmente o de Júnia Máximo. Para a identificação, foi desenterrado. A família confirmou que era mesmo de Júnia.

O corpo foi desenterrado durante a tarde, identificado e, no momento da atualização desta reportagem, estava sendo levado de volta para Divinópolis, para ser velado no cemitério Parque da Colina. 

“Minha mãe sempre foi muito boa, ajudou muitas pessoas e não merece isso. Ela morreu às 22h e não velamos até agora. Nem um velório digno a gente pode fazer. A gente entende por ser um protocolo de Covid, mas isso que aconteceu é um absurdo”, diz a filha. 

Quadro clínico

Júnia deu entrada na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) no dia 1º de junho com problema arterial. No dia três ela foi transferida para a ala do Hospital São Bento Menni que foi direcionada para a UPA durante a pandemia. Ele foi destinada para pacientes não Covid-19.

Entretanto, lá, contraiu a doença e o quadro de saúde se complicou. Ela era hipertensa. De lá, foi transferida, no dia 16 de junho, para o Complexo de Saúde São João de Deu (CSSJD).

No domingo (20/6), o quadro de saúde dela piorou e ela foi intubada no Centro de Terapia Intensiva (CTI). Júnia deu falência múltipla dos órgãos e morreu na segunda-feira (21/6) por volta das 22h.

Mudança nos protocolos

Com objetivo de impedir que erros como este aconteçam novamente, a Prefeitura de Divinópolis anunciou que alterou o decreto nº 14.397/21, determinando que toda pessoa que falecer em decorrência do Covid-19 seja sepultada apenas mediante prévio reconhecimento por um familiar ou, na falta deste, de pessoa autorizada, com as apresentações e cuidados necessários. Esse procedimento já acontece na UPA Padre Roberto.

“A Prefeitura de Divinópolis lamenta profundamente a morte da ex-assessora parlamentar e ex-funcionária da Empresa Municipal de Obras (Emop), Júnia Máximo. Conhecida pela liderança participativa no segmento feminino e importante participação na estruturação do movimento comunitário em Divinópolis, com participação ativa na defesa dos moradores dos bairros”.

Júnia Máximo ocupou a presidência da Federação das Associações de Moradores, Bairros e Conselhos Comunitários Regionais de Divinópolis (Fambaccord) e do Conselho Municipal de Segurança.