Paciente morreu de infarto e o corpo foi armazenado na área de COVID-19

Um caso registrado neste final de semana em Divinópolis gerou indignação. Uma família foi impedida de velar um ente devido a um erro cometido na Unidade de Pronto Atendimento (UPA).

O homem, de 53 anos, morreu de infarto no sábado (1/5), entretanto, por uma falha, o corpo foi armazenado na área destinada aos casos confirmados e suspeitos de Covid-19.

A história foi relatada pelo vereador Flávio Marra (Patriota) que acompanhou a família na unidade no sábado (1/5).

Edson Antônio dos Santos havia recebido alta médica um dia antes. Ele esteve internado no Hospital Bento Menni (ala destinada a pacientes da UPA), após dar entrada na unidade na semana anterior com dores no peito. Ele foi submetido ao teste da Covid-19 que deu negativo.

No dia seguinte, ele voltou a passar mal e foi levado durante a noite, por familiares, até a unidade. A irmã dele, Daniella Mara dos Santos disse que ele morreu por volta das 3h.

Ela ainda contou que todos os documentos para emissão do atestado de óbito estavam com os responsável da UPA. Porém, faltou a certidão de nascimento. Ela foi até a casa dele, na zona rural, para busca-la. Eram 10h de sábado (1/5) quando ela entregou o documento para liberar o corpo.

“Eles nos falaram que a médica estava atendendo urgência, ficamos aguardando do lado de fora para liberar. Saímos de lá quase 15h da tarde, fui na funerária e o agente disse que se fosse velar seria uma hora só”, conta Daniella.

O prazo é para seguir os protocolos sanitários em razão das restrições da Covid-19. Devido ao horário da liberação, foi informado à família que o enterro seria às 16h.

“Chegamos na UPA e o moço da funerária estava lá, e ele disse que não ia pegar o meu irmão porque ele estava na área da Covid. Fomos conversar com a moça e ela não soube explicar. Depois liberaram para podermos ver. Estava no saco, tiraram do saco. Foi um pouco caso”, relata.

Com a informação do agente funerário, a família pediu explicação sobre os motivos do corpo está na área Covid já que o atestado era de infarto. Sem respostas, recorreram ao vereador. Após conversarem com os responsáveis, foi informado sobre o erro.

Os familiares só conseguiram sair da UPA às 18h quando conseguiram enterra-lo, sem velório, no cemitério Parque da Colina.

A família agora pede justiça.

“Meu irmão acha que deveríamos acionar a justiça, porque se aconteceu com a gente, pode acontecer com outras pessoas. Eles precisam andar correto com a gente. Só dar uma explicação e a gente ia entender. Esperaram dar a confusão toda. Vamos conversar entre os irmãos para decidirmos o que fazer”, diz a irmã.

Flávio Marra disse que vai pedir a instauração de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar o caso.

“Com quantas pessoas eles já fizeram isso? E se a gente não colocar freio eles vão continuar fazendo. Não é nada contra a empresa que terceiriza a UPA, funcionário, é contra o sistema, contra essas coisas que estão acontecendo e que não podemos compactuar (…) Que os verdadeiros culpados possam aparecer”, declarou.

O que diz a UPA

A gestão da UPA informou que o homem, de 53 anos, foi levado por familiares até a sala vermelha, sem antes passar pela triagem para classificação de acordo com o protocolo de Manchester. Eles relataram que o paciente era hipertenso e havia sentido dor torácica e dispneia de início súbito.

Ainda segundo a nota da unidade, o paciente foi submetido a atendimento médico imediato. Ele foi classificado como “laranja” pela equipe de enfermagem e enquadrado como paciente sintomático respiratório e por isso encaminhado para a área considerada de COVID-19.

“Submetido a todos os procedimentos possíveis e necessários, infelizmente evoluindo para óbito às 00h40 e comunicado mediatamente o irmão”, explicou.

Como a morte ocorreu na área respiratória, inicialmente, o corpo foi preparado conforme o plano de contingência do Ministério da Saúde.

“E encaminhado para guardar temporária do cadáver como tal”, completou a UPA.

Com a chegada dos documentos, às 10h foi preenchida a declaração de óbito. A médica plantonista que participou do atendimento classificou a morte como infarto agudo do miocárdio e endma agudo do pulmão, descartando a suspeita de coronavírus.

Investigação

Em nota, a prefeitura disse que “todas as providências para apuração dos fatos foram imediatamente adotadas” assim que tomou conhecimento sobre o ocorrido.

“Foi intensamente cobrado esclarecimentos da atual gestão administrativa da UPA”, informou.

O órgão ainda disse que será realizada uma investigação para que todas as falhas sejam identificadas e solucionadas, “a fim de que erros como esse não aconteçam novamente”.