Hospital Público Regional Divinópolis
(Foto: Diego Henrique)

COVID: Marcus Vinícius  demonstrou preocupação com os próximos meses e questionou: o que será feito com as 40 pessoas que estão na fila de espera?

A deficiência de leitos e as incertezas sobre a abertura de um novo hospital de campanha em Divinópolis conduziu a audiência pública realizada na manhã desta terça-feira (1/6). Ela foi promovida de forma remota pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) a pedido da Associação Comercial, Industrial, Agropecuária e Serviços de Divinópolis (Acid) e pela vereadora Lohanna França (Cidadania).

O promotor e coordenador da Coordenadoria Regional das Promotorias de Justiça de Defesa da Saúde da Macrorregião Sanitária Oeste (CRDS/OESTE), Marcus Vinícius Lamas Moreira pediu socorro e demonstrou preocupação com o iminente risco de uma terceira onda ainda em junho.

“Estamos só perdendo leitos, precisamos de socorro”, afirmou, citando o hospital Manoel Gonçalves de Itaúna que informou, nesta segunda-feira (31/5), que não irá mais receber pacientes por estar com a capacidade excedida.

Moreira questionou sobre o interesse do estado em abrir leitos no hospital regional. Citando uma declaração do governador Romeu Zema (Novo), afirmou que não sabe se estavam, na audiência, “discutindo algo que não vai para frente”.

Em visita a Perdigão, o governador disse que “não estaria confortável em fazer puxado” ao ser questionado pela reportagem do PORTAL GERAIS sobre os leitos emergenciais no hospital regional.

O promotor destacou a importância de seguir os trâmites legais e jurídicos na viabilização do hospital de campanha ao mesmo tempo em que ressaltou a necessidade de “boa vontade”.

Fila de espera

Moreira também citou a fila de espera de pacientes aguardando vagas para tratamento contra a Covid-19.

“O que será feito com as 40 pessoas que estão na fila”, questionou.

Ele ainda demonstrou preocupação com os próximos meses.

“Vai aumentar infelizmente. Não sei que esperança vamos dar aos mineiros”, declarou.

Moreira também frisou os gastos do estado ao transferir pacientes de uma macrorregião para outra para assegurar a assistência. Para ele, o dinheiro aplicado nas remoções poderia ser investido na abertura dos leitos em Divinópolis, por exemplo.

Cis-URG

O secretário do Cis-Urg Oeste – consórcio que gerencia o Samu Oeste, José Márcio Zanardi também fez os mesmos questionamentos. Em março, o consórcio recebeu ofício do governo do estado pedindo que uma proposta de gestão fosse apresentada. Seriam abertos 20 leitos de tratamento intensivo e outros 40 de enfermaria.

Entretanto, em maio, o estado retornou alegando que o convênio não poderia ser firmado diretamente com o Cis-Urg. Ele teria que ser oficializado junto ao município. 

“Infelizmente a burocracia e o nível de exigência é tão grande que não se aprova nada”, declarou e completou: “estamos vendo gente morrer sem a devida assistência”.

Crise da eletiva 

Zanardi ainda chamou a atenção para outro problema: cirurgias eletivas. Com a rede hospitalar em colapso, não há condições estruturais e leitos para receber pacientes. A fila já soma 1,4 mil pessoas aguardando por procedimentos cirúrgicos.

Para ele, a abertura do novo hospital de campanha ajudaria aliviar outras unidades hospitalares, como o Complexo de Saúde São João de Deus (CSSJD) para que elas fosse retomadas. 

A mesma abordagem foi feita pelo presidente da Câmara de Divinópolis, o vereador Eduardo Print Jr (PSDB). Para ele, a paralisação irá criar “uma bolha de eletivas” gerando um problema pós-pandemia superior à Covid-19.

“Vamos saturar a rede hospitalar com tantas cirurgias paralisadas em toda Minas Gerais”, ponderou.

Ele ainda cobrou a abertura dos leitos emergenciais.

“Estamos pedindo a abertura, mas quem prometeu abrir em 30 dias foi o estado”, enfatizou, tratando a “promessa” como “descabida”.

“Qualquer leigo sabe que não tem condições de abrir em 30 dias”, mencionou, citando projetos elétricos, sanitários, de engenharia.

Os leitos seriam instalados em uma ala mais avançada da obra iniciada há 10 anos e paralisada há cerca de cinco.

Estado empurra para a prefeitura

Em resposta aos questionamentos, a representante do governo do estado disse que não há nenhuma orientação para não dar sequência ao projeto de abertura dos leitos. Entretanto, empurrou para o município.

Disse que a proposta não foi cadastrada no sistema do estado e que sem ela não há como dar andamento.

“Não é burocracia. Não estamos causando entraves, somente pedindo que seja cadastrada proposta”, declarou, dizendo que os R$3,6 milhões para as adequações estão garantidos.

Em reposta, o secretário municipal de Saúde, Alan Rodrigo da Silva admitiu que a proposta não foi cadastrada. Informação contrária a divulgada pela assessoria de comunicação da prefeitura ao PORTAL GERAIS no dia 18 de maio. Na época, foi informado que o município já tinha anexado os documentos.

“O sistema que utilizamos para formalização de convênio com o estado chama-se Gicon, é um é um sistema que a gente vai colocando os documentos a medida que o protocolo do Estado vai solicitando. A gente anexou todos os documentos, o Estado revisou os documentos e ele pediu para gente fazer algumas alterações. Reinserimos esses dos documentos hoje à tarde, agora aguardamos o posicionamento. Estamos aguardando a Secretaria de Estado emitir o parecer, se tiver tudo OK, não tiver mais pendências, ela já envia para formalização e assinatura do convênio”, nota da prefeitura do dia 18 de maio.

O secretário reagiu a declaração da representante do estado.

“Todos os documentos estão prontos para serem inseridos no sistema (…) Típico discurso de quem não quer que saia. Então diga que não quer”, rebateu.

O superintendente da regional de Saúde Oeste, Júlio Barata pediu palavra e disse também falar em nome do estado. Garantiu que é “total interesse do estado” abrir o hospital de campanha.

Por fim, não houve uma definição de quando devem ser instalados os leitos emergenciais.