Obviamente, nem todos que cursam medicina ou outros cursos o fazem, apenas, só por estabilidade financeira no futuro. Quero crer que casos assim sejam exceções, mas é lastimável saber que alguém que cursou faculdade pública – paga por você e por mim – no fim pense, apenas, nele próprio e nos benefícios que o título de médico lhe conferirá dentro da sociedade na qual está inserido.

 

 

rodrigo (1)

Não sei se você é como eu, mas tenho certa birra de gente que agrega sua condição ou profissão à sua própria pessoa. Gente assim se enche de empáfia, e em vários casos se acha maior do que realmente é.

Para piorar tudo, ainda tem alguns que, seja por desinformação ou falta de orgulho próprio, reforçam a condição daquele que se acha mais do que realmente é. Exemplos? Fácil de dar. Não é porque fulano é padre que ele é santo, ou não é porque cicrano é juiz ou advogado que ele é deveras justo.

É bem verdade que quanto mais conhecimento uma pessoa adquire ela estará mais apta e propensa a ser verdadeiramente boa. Mas só será, de fato, se por em prática o que acumulou de conhecimento junto com o respeito ao próximo.

Ter títulos, condição ou formação não quer dizer que a pessoa em questão seja um poço de idoneidade, e que por ser assim podemos depositar nossas vidas nas mãos dela. Nem sempre é assim, e numa sociedade de consumo e essencialmente capitalista isso, por vezes, não se enquadra muito.

Há pouco tempo conversava com um conhecido que me disse que o sonho do seu sobrinho se concretizara. O garoto, no início do ano, passou no vestibular de medicina numa universidade federal. Terá ensino de qualidade, a baixo custo, com ótimos professores e estrutura acadêmica de ponta. Logo, disse ao amigo:

– Fico feliz pelo seu sobrinho. É muito bom a gente fazer aquilo que tem como vocação.

Percebi que ele ficou desconcertado com o que eu disse e lascou o seguinte comentário: 

– Olha meu caro, os pais dele (o sobrinho) gastaram muita grana com cursinho e tal. O garoto agora passou na federal, mas vai estudar mesmo é para ficar rico. Para ele, e seus pais, a medicina é um ótimo caminho para ficar bem de vida.

Obviamente, nem todos que cursam medicina ou outros cursos o fazem, apenas, só por estabilidade financeira no futuro. Quero crer que casos assim sejam exceções, mas é lastimável saber que alguém que cursou faculdade pública – paga por você e por mim – no fim pense, apenas, nele próprio e nos benefícios que o título de médico lhe conferirá dentro da sociedade na qual está inserido.

Títulos, profissões ou “berço” não deveriam fazer uma pessoa ser maior do que a outra. Mas infelizmente isso ocorre.

Viver coletivamente é saber que numa sociedade todos têm um papel importante, e aqueles com condições financeira e de obter conhecimento mais favoráveis têm maiores responsabilidades. No sentido de criar ambientes que estimulem o crescimento dos demais, seja no seu campo de atuação ou em trabalhos pontuais dentro da própria comunidade.

É como se fosse uma espécie de retorno à sociedade que, de certa forma, contribuiu para aquela pessoa hoje ocupar o espaço que ela ocupa. Se assim for, evitam-se constrangimentos como o do caso abaixo:

Era tão humilde que para ele todo mundo era doutor. Fazia questão de tratar as pessoas assim, dizia que era questão de educação. Mas na verdade, se julgava menor do que os outros. Mal sabia ler e tampouco escrever.

Entendia que seu saber era curto e que qualquer um, mesmo que fosse mais jovem e menos experiente que ele, saberia mais. Era simples e por ser assim, quase sempre era posto para trás. Determinadas pessoas gostam de abusar da boa fé dos mais simples.

Cada um faz as suas escolhas e ser honesto ou caridoso é faculdade de gente que possui princípios mais nobres.