Antonio Andrade
Tatiana freava o passo em frente toda casa com placa de venda.
– Amei esta cor – os olhos brilhavam.
Janela de uma, quintal de outra e vida de outros.
– Sério? Jordani e Paola? Onde aquilo é perfeito, querida?
– Ah, não sei, eu sinto, sabe?
Sentia tão bem, que só ficou sabendo da infidelidade de seu noivo com a secretária (clichê, eu sei) porque um dia ele cansou e contou.
Era como andar em um mundo preto e branco; zerou a vida, zerou os sonhos. Então veio Carlos e com ele um lápis de colorir.
– São José do Rio Preto – ela arriscou.
– Ah, São Paulo, sério? Eu pensei no sul, frio, melhores salários, melhores faculdades para nossos filhos e menos violência.
Era uma caixa de lápis de colorir de 36 cores – pensou e riu.
Mas sobre expectativas, elas não tem função alguma, exceto não se cumprirem; Tatiana haveria de chorar novamente.
– Ah, Carlos, eu queria perguntar o motivo, mas o que importa, não é? – foi um avanço.
Pregou um sorriso no rosto, conteve o frio no estômago e o suor da desolação, enfiou os lápis no bolso e passou a colorir seus sonhos sozinha.