livro

 

Há algumas semanas, a minha cunhada, de 18 anos, me procurou pedindo um livro emprestado. Pra ser mais exato, “O Cemitério”, de Stephen King. Apesar do ciúme do conteúdo da pequena biblioteca particular que mantenho em casa, emprestei o volume de bom grado, porque acho que a leitura precisa ser incentivada. Mas o que mais me chamou a atenção foi ela dizer recentemente que está lendo mais o livro porque o seu “foninho” estragou. Pensando sobre o hábito de ouvir música no celular, já me vi matutando a respeito das redes sociais e em como essa “ferramenta” está mudando (ou já mudou?) o conceito de escrita, linguagem e da própria comunicação.

 

Tenho ouvido com certa frequência que as redes sociais (Facebook, por exemplo) e aplicativos similares (WathsApp) mais isolam do que unem as pessoas. Afirmação genérica e baseada no senso comum. A nossa realidade está mudando e as interações entre as pessoas também. Já tentei me ver livre dos smarthphones, mas é inegável, nessa era digital, o quanto se transformaram em um item essencial, desde a conferência de um email até a conversa com alguém para resolver um problema imediato que, de outra forma, não aconteceria.

 

Existem exageros e obsessões por parte de alguns usuários? Com certeza, assim como há para a TV, rádio, impressos e até festas (relacionamento social, correto?). Pois bem, o uso da internet e a mudança na comunicação entre as pessoas trouxe uma outra realidade até então desconhecida de forma tão abrangente, que é a mudança na escrita e no própria conceito de linguagem.

 

Tomo como exemplo o contato que mantenho constante com meus alunos para esclarecer dúvidas ou passar orientações de trabalho pelo Facebook ou pelo WhathsApp. Há quem apresente uma escrita gramaticalmente correta e há quem escreva de uma maneira bem particular. Não julgo certo ou errado na maneira de escrever nessas interações virtuais, porque aqui o fator tempo costuma ser fundamental e desde que a mensagem seja entendida, já basta. Além disso, existem textos e estudos bem interessantes sobre o tal preconceito linguístico, que é muito mais presente do que se imagina. Quem já trabalhou como jornalista, sabe bem o que é isso, no momento de conversar com uma fonte e descredibilizá-la só porque não conversa “direito”.

 

Agora faço o papel de advogado do diabo, porque se tomarmos como base que qualquer tipo de linguagem é válida, que todo o dialeto tem seu direito de existir e que todo “agente” “concerteza” e “mais” (quando se quer dizer mas) são válidos, estaremos caminhando rumo a bíblica torre de Babel, e as redes sociais seriam então a intervenção divina para que não cheguemos ao céu. A comunicação parte de um preceito de que adotamos um código comum entre todos, porque do contrário, não há entendimento. O problema desse “poblema” é que ele passa a ser assimilado facilmente por todos. Até aqueles que detêm um grau maior de conhecimento e/ou instrução, que deveriam ter melhores condições de se comunicarem corretamente, não o fazem, como alguns políticos eleitos que insistem em chamar a nossa Princesinha do Oeste de “Divinópis”.

 

Procuro não ficar radicalizando quanto a erros em conversas ou nas falas de outras pessoas (seja pessoal ou virtualmente), mas como poderemos nos entender se não há um contrato linguístico mínimo que nos permita compreender uns aos outros de forma clara? Exemplos pululam na internet prints de conversas entre adolescentes dessa nova geração e em alguns casos, fica praticamente incompreensível o que estão dizendo, devido a tantas abreviações e modismos.

 

Tenho comigo que os livros e demais impressos, que ainda seguem esse contrato linguístico, sejam uma espécie de baluarte final para manterem vivos os preceitos básicos da comunicação. Ler é fundamental para quem quer se comunicar melhor. Fato. Mas vejo o final dos tempos se aproximando quando jornalistas passam a não ler nada (nem mesmo aquilo que eles próprios escrevem). É como um dentista que não escova os dentes. Você confiara no trabalho desse profissional para comunicar a você o que está acontecendo ao seu redor?

 

Douglas Edson Fernandes

dougedson@gmail.com

Professor de Comunicação Social da Faculdade Pitágoras – Campus Divinópolis

Jornalista, especialista em Imagens e Culturas Midiáticas (UFMG) e em Poder Legislativo e Políticas Públicas (ALMG)