Talvez não tenha nada mais sacrificante para o homem do que dividir. Desde pequeno, quando os juízos de valor ainda não estão devidamente formados, o ato de dividir dói ou constrange. A mãe é sua. O peito e o leite dela também são seus.
Quem encara a divisão como um gesto de perda, seja lá em que nível for, sofre. Não entende como sendo justo algo que julga ser seu dado a outro. Independente se este outro também fez por merecer ou, em outra análise, se não obteve um tal benefício por situações alheias a sua vontade. Isso porque a vida é injusta e cerceia alguns.
A divisão torna o homem egoísta? Ou o homem egoísta não divide?
Não se trata de mera avareza, mas da possibilidade de privar alguém de uma situação que conseguimos. De possibilitar que ele também cresça, mude de estágio.
Neste aspecto, a divisão entendida como um gesto de partilha é altruísta. Exatamente porque prevê que todos devem ter acesso aos bens materiais e imateriais. De valores e conhecimentos. Essa é a divisão que soma e faz a diferença.
Tanto é verdade que o compartilhar desafia a lógica. Quem divide, neste caso, agrega na vida de outros de forma positiva. Esse homem é mais humano – exatamente porque entende a sua situação, a do outro e as forças que interagem nessa relação – e menos indivíduo dentro do contexto social.
Os séculos e suas eras moldam o homem. Ao longo do tempo o dividir ganhou mais ou menos força. Se a atualidade e seus apelos de consumo e de uma vida cada vez mais voltada para o individual empurram o homem para o dividir da perda, o futuro que começa agora cobra outro entendimento.
Não há como conceber, por exemplo, vida sustentável no planeta Terra sem o dividir do compartilhar. Tal como, nenhum gesto de equilíbrio social entre os povos no sentido da paz se perpetuará sem o gesto do partilha.
Quem compartilha é tolerante. Primeiro consigo e depois com o outro. A tolerância é questão fundamental para entendermos o próximo e também a nós mesmos. Ela faz enxergar os erros e frustrações, mas também aponta caminhos para a convivência harmoniosa, mesmo na diferença.
O homem é uma criança na matéria do dividir. Mas até as crianças, dentro da sua inocência, quando amadas e estimuladas entendem o sentido do compartilhar.
A humanidade engatinha e os nossos valores também. Cada coisa a seu tempo e à sua maneira. Evoluir não é queimar estágios, é, sim, aprender com cada um deles. Nos seus erros e eventuais acertos.