Rodrigo Dias

O caboclo é um ser matuto. Ele não faz promessa a Deus. Faz combinação. O sertanejo quando olha para o seu e vê o sol escaldante queimar a plantação não reclama. Ele ora. Reza a Deus pela chuva e a bonança.

Diante dos mistérios que há neste mundo, o caboclo aprendeu a reconhecer a sua pequenez. Com o seu ofício, o de plantar, compreendeu a filosofia elementar da vida: tudo tem o seu tempo para frutificar.

Até lá, o que se vive hoje é labuta. Sem ela nada faz sentido. O caboclo e o sertanejo são seres rústicos. Resistentes por viverem na dureza. Destes que não tombam fáceis e que possuem um elemento tão raro nos dias de hoje: a fé.

Acreditar no invisível que pode mudar tudo fortalece o homem. Frágil é aquele que deposita todas as suas fichas, apenas, nas suas próprias forças. Fé não é mistério e tampouco sobrenatural. Fé é chama de vontade que quando arde com intensidade se concretiza mediante o merecimento de cada um.

Mas o caboclo e o sertanejo não se preocupam em explicar a fé. Aprenderam, desde cedo, que o importante é senti-la com fervor e colaborar com ela. Afinal, fé sem trabalho é só desejo.

Ter fé não é argumento de ignorante. Ter fé é predisposição de almas brandas e não tementes. A resignação do caboclo lhe prepara para este exercício em cada prova em que é posto.

 Hoje tudo é fast… Tudo vem pronto. A fé, não. É uma condição que se desenvolve, portanto, tem que ser praticada. Nos dias atuais, com tantos atos de desumanidades, o exercício da fé voltou a ser recorrente.

A diferença é que a fé não é depositada no Criador como agente de transformação pelo merecimento de cada um. Hoje o sentimento de fé é depositado no próprio homem.

As pessoas de bem querem paz. Vida digna. São transformações que dependem do próprio homem. A fé, neste caso, é um grito contra a bala perdida. Contra a falta de educação. Contra a barriga que ainda chora de fome.

 As provações de hoje não são castigo de Deus. São frutos do egoísmo. Em alguns casos, a miséria humana é tanta que nos é tirado até o direito de ter fé.

Não na fé no que é invisível e está acima de nós. Mas a fé no homem. Até nisto o sertanejo é mais astuto. Ele aprendeu a dividir.

Tal como a fé, o caboclo legítimo tá sumindo. Dá lugar a outro tipo de lavrador. O que tira da terra tudo, mas que não leva dela nada. Tampouco aprendizado.

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