Foto registrada em 2011 por Wilton de Sousa Junior

Foto registrada em 2011 por Wilton de Sousa Junior

 

Pegue um jornal de alguma pequena cidade do interior do Brasil, dê uma olhada nas fotos da capa e das matérias em seu interior e me responda: qual o discurso imagético de cada fotografia? Difícil definir, não é? Há exceções, mas o mais comum é nos depararmos com fotos que simplesmente ilustrem o que está nos textos, reduzindo o fotojornalismo a um mero adereço, sem conteúdo significativo ou capacidade de causar reação.

 

No corre-corre das redações, com a iminência de estourar o deadline diário e com equipes reduzidas, muitos jornalistas são obrigados a ter como prioridade a produção da matéria (ou matérias) e deixar as fotos para segundo ou terceiro plano (isso, se der tempo de fazer a foto). Sob tanta pressão, o que o jornalista acaba fazendo é simplesmente apertar o botão da máquina fotográfica e registrar a imagem chapada e posada do seu entrevistado.

 

Diferente de grandes jornais, que fazem questão de contratar profissionais de peso e garantir uma riqueza de imagens em suas edições diárias, os jornais do interior são, na maioria das vezes, pobres no discurso imagético.

 

Comum em grandes centros, como São Paulo, Rio ou BH, o fotojornalista é uma criatura em extinção nas cidades do interior. Isso porque as pequenas redações não podem ou não querem gastar com esse profissional, que pode fazer a diferença em um jornal. Fotos como as de Robert Capa, Lula Marques, Eddie Adams, Kevin Carter, Nick Ut, Wilton de Souza Junior, Rich Lam, Ueslei Machado, Patrick Farrel, Oded Balilty, e tantos outros, criaram um contexto fotojornalístico de importância histórica, que inegável para o ramo da comunicação/informação/contextualização.

 

Um exemplo? Procure no google pelo nome Wilton de Sousa Junior e encontrará a foto que o profissional registrou de Dilma em 2011, pelo Estadão. A foto recebeu uma série de prêmios e até hoje, completando seus 3 anos, ainda é atual, devido ao discurso que ela carrega. Diria até, parafraseando o mestre Bresson, que a foto de Wilson tem capacidade de comunicar por si só, não demandando nenhum tipo de legenda ou complemento.

 

Mas se sabemos da relevância fotográfica no jornalismo, por que há essa carência de profissionais na área nas cidades do interior? Entre as respostas possíveis, a mais comum é a já citada acima: falta de investimentos. Mas mesmo acumulando funções, o que é normal no jornalismo do interior, outro problema é a falta de conhecimento fotográfico do jornalista. Muitos mal sabem manejar uma máquina compacta de bolso, quanto mais uma semiprofissional ou profissional. Existem ainda aqueles que tem à disposição o equipamento, mas o melhor que conseguem fazer é colocá-lo no modo automático e apertar botões.

 

Esse debate não é novidade. Como professor de fotografia e fotojornalismo, adoto como didática o ensinamento não só da técnica (que pode ser apreendida em manuais e em sites), mas principalmente a questão estética da foto, que tem capacidade de criar discursos imagéticos poderosos e tornar fotografias imortais, como da garota vietnamita Phan Kim, ferida por napalm (foto de Nick Ut) ou da criança negra subnutrida, na ameaça de um abutre (foto de Nick Carter).

 

A professora Dulcília, uma das estudiosas brasileiras de fotografia, defende que não existem imagens inocentes. Concordo com ela. O que existem são fotógrafos inocentes, que não acreditam no poder que uma boa foto carrega.