Gleidson Azevedo e servidor municipal discutem
Gleidson Azevedo e servidor municipal discutem durante protesto (Foto: Reprodução/Instagram)

Prefeito de Divinópolis dizia que não poderá conceder reposição neste ano quando foi interrompido por manifestante exaltado

O prefeito de Divinópolis, Gleidson Azevedo (PSC), trocou insultos e ameaçou de processo um servidor municipal durante um protesto por reposição salarial organizado pelo Sindicato dos Trabalhadores Municipais (Sintram). 

O prefeito fazia uma transmissão ao vivo pelo Instagram. Começou dizendo que o protesto é direito dos trabalhadores, que defendem um reajuste anual. Porém, quando disse que a lei federal 173 o ampara, foi confrontado pelo servidor, que, exaltado, o chamou de “moleque” e pediu que “seja homem”. Depois disse que a lei federal da qual o prefeito falava não existe.

“Eu, como prefeito, infelizmente vou ter que falar um não, mas estudei junto às secretarias de Fazenda, Administração e esse ano, infelizmente, a gente não tem condições, porque impactaria na folha mais R$ 1 milhão por mês”, disse o prefeito. 

Ao dizer que existe uma lei federal que o ampara, o servidor se aproximou do prefeito e afirmou que, de acordo com ele, essa lei não existe. Azevedo pediu o outro deixasse ele terminar a fala. Mas, não foi atendido. 

A menos de um metro de distância de Gleidson, o servidor removeu a máscara que usava e começou a gritar a ele: 

“Você está mentindo para a população! Seja homem! Você está mentindo para a população! Você é um moleque! Vira homem! Você é um moleque! Não existe lei federal! Molecagem sua”. 

Neste momento, pessoas que estavam em volta dos dois interviram para separar os dois.

Com o microfone em mãos, o prefeito pediu, por várias vezes, que o outro deixasse ele concluir o raciocínio. Enquanto o homem dizia que Azevedo engana a população, o prefeito continuou olhando para a câmera e defendendo seus pontos de vista. 

“População de Divinópolis, olha o que é a situação do servidor público. Você, divinopolitano que está desempregado e não tem nada agora, ele tá querendo reajuste. O salário dele está em dia. Eu antecipei o 13º dele agora para o mês de julho. Infelizmente. Não é porque eu não quero. É porque eu não posso. Isso vai impactar em mais de R$ 1 milhão. Eu tenho que valorizar”. 

Ao perceber que o servidor continuava intervindo, Gleidson se dirigiu a ele para repetir que não concederá o aumento neste ano porque não pode. O trabalhador disse que o prefeito havia prometido o aumento e voltou a pedir que “seja homem”. 

Pessoas em volta dos dois começaram a aplaudir e a incentivar. Alguns aplaudiam o prefeito e outros, o servidor. 

“Você é um moleque! Se você fosse homem, você honraria! Por favor, moleque!”, gritou o servidor, agora novamente usando máscara, mas com a mão nela a todo instante. 

Ao ser novamente chamado de “moleque”, Gleidson rebateu de forma mais incisiva. 

“Eu vou te processar, hein? Moleque, não! Moleque, não! Seu vagabundo! Vagabundo! Vai trabalhar, vagabundo! Moleque?”, gritou o prefeito. 

Gleidson se acabou um pouco quando um apoiador que estava perto interviu e disse estar “com ele” e perguntou se ele iria “entrar na pilha” – ou seja: ceder às provocações feitas pelo servidor. 

Quando o outro homem se afastou de novo, Gleidson continuou o discurso: 

“População de Divinópolis: tá vendo a situação aqui? É só problema! Não é que eu não quero. Eu não posso. Eu tenho que valorizar. Eu não tenho condição de dar o reajuste. Só pra vocês terem uma ideia, se eu der um reajuste agora, eu, prefeito, que ganho R$ 18.400 mil por mês, vou aumentar R$ 900 no meu salário. Vocês acham justo? O divinopolitano hoje passando fome, desempregado, e um prefeito aumentar R$ 900? Vocês acham isso justo? Não é porque eu não quero! É porque eu não posso!”

O prefeito, então, voltou a dizer que o protesto é direito dos trabalhadores e acrescentou que alguns servidores municipais recebem de R$ 20 mil a R$ 30 mil por mês e que o reajuste de 5% em cima desses valores seria muito pesado para as contas municipais, impactando em mais de R$ 1 milhão na folha. 

Em seguida, Gleidson olhou para o servidor, que já estava afastado, e passou a dizer que vai processá-lo. 

“Ele, eu vou processar! Isso é um absurdo! Moleque, não!”, bradou. 

Azevedo anterior

Em seguida, outro servidor pegou o microfone e fez referência a Vladimir Azevedo (PSDB), ex-prefeito. 

“Naquela cadeira em que você está sentado hoje, já esteve sentado também um Azevedo. O único prefeito que fez, Azevedo, no tempo em que ele estava lá e teve resposta nas urnas depois”. 

Gleidson pegou o microfone de volta e rebateu. 

“Aham. Beleza. Esse mesmo Azevedo, gente, é o Vladimir. Ele quebrou a cidade. Eu não posso governar para cinco mil servidores, não. Eu tenho que governar é para 240 mil habitantes. E hoje, se eu fizer esse reajuste, a cidade não vai andar. Agora, isso aqui ó [aponta para os manifestantes], é uma falta de respeito com a população. Porque tem muito divinopolitano que não tem nada, que está desempregado. Pelo menos o salário dele cai todo dia na conta deles. Eu até antecipei o 13º”.

O prefeito disse que, se depender dele, ele concede o aumento.

“Mas, vocês acham justo um prefeito ganhar R$ 18.400 e ter um aumento de R$ 900? E outros servidores que ganham R$ 30, R$ 40 mil? Vai aumentar 5% pra poder aumentar em mais de R$ 1 mil. Esse aumento vai dar mais de R$ 1 milhão na folha de pagamento. Cês podem ter certeza que no ano que vem, se eu tiver condições, é claro que eu quero dar esse reajuste, que isso não é aumento salarial, não. É simplesmente um reajuste. A minha esposa é servidora pública, professora. Acha que eu não sei a luta dela, não? Agora, isso é uma falta de respeito comigo, que sempre estou com a população. Chamar eu de vagabundo e de moleque? Que tipo de respeito vocês querem? Que tipo de respeito? Eu sou prefeito dessa cidade! Tenho que governar pra 240 mil habitantes. Hoje é todo dia gente pedindo emprego. Vocês, estão garantidos. Vocês têm estabilidade. Querendo, não querendo, o salário de vocês está na conta! Isso é uma falta de vergonha com a população. Eu estou resguardado pelo lei 173”, finalizou. 

Lei federal

Em nota, a Prefeitura de Divinópolis confirmou que o Município não irá conceder o gatilho salarial. Segundo o Executivo, foi realizada uma reunião com o sindicato para negociação e esclarecimentos.

Diz o governo: 

Estamos temporariamente impedidos em virtude da Lei Complementar Nº 173, que veda em seu Art. 8º: 

União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios afetados pela calamidade pública decorrente da pandemia da Covid-19 ficam proibidos, até 31 de dezembro de 2021, de:

I – conceder, a qualquer título, vantagem, aumento, reajuste ou adequação de remuneração a membros de Poder ou de órgão, servidores e empregados públicos e militares, exceto quando derivado de sentença judicial transitada em julgado ou de determinação legal anterior à calamidade pública

O Município reuniu com o Sintram e Sintemmd no dia 07/04 para negociação e esclarecimentos.

 

 

 

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