greve dos motoristas divinópolis
Foto: Portal Gerais

A recente greve dos motoristas do transporte coletivo em Divinópolis deixou uma lição clara aos chamados políticos tiktokers: vídeos em redes sociais não resolvem problemas complexos. Na vida adulta e na política séria, a boa e velha articulação continua sendo a ferramenta mais eficaz de gestão. E é justamente essa habilidade que tem faltado à atual administração municipal.

Problemas dessa magnitude não se solucionam com declarações apressadas ou espetáculos virtuais, mas com diálogo e negociação qualificada.

O movimento grevista, encabeçado por mais de 100 motoristas, não baixou a cabeça para promessas ou anúncios feitos em redes sociais – como aconteceu na sexta-feira (7/3) com o anúncio de suspensão da greve.

A paralisação visava um reajuste salarial justo e, mesmo sem atingir o índice originalmente pretendido, conseguiu ampliar a proposta inicial de 15% para cerca de 20%. Esse avanço foi fruto da capacidade de articulação da categoria junto ao consórcio responsável pelo transporte público, não de vídeos ou postagens de político.

Greve dos motoristas ilegal

Enquanto os trabalhadores e consórcio estruturavam uma nova proposta, a prefeitura optava por tentar descredibilizar o movimento, atacando o sindicato que representa a categoria e buscando judicializar a paralisação.

A tentativa de considerar a greve ilegal baseou-se, entre outros argumentos, no vídeo gravado pelo prefeito Gleidson Azevedo ao lado do presidente do Sinttrodiv, Erivaldo Adami, no qual anunciavam a suspensão da greve. No entanto, a decisão final cabe à assembleia dos trabalhadores, não a um vídeo ou a uma declaração isolada.

É alarmante a tentativa da administração de atribuir a um vídeo um poder superior ao da assembleia sindical. Esse tipo de postura demonstra a inversão de prioridades e a ausência de uma estratégia de negociação séria. De acordo com o sindicato, todos os trâmites legais, incluindo a notificação prévia de 72 horas, foram devidamente seguidos.

Se houve alguma ilegalidade na greve, esta se deu pela não manutenção de 30% da frota em operação, como determina a legislação para serviços essenciais. Contudo, essa situação foi rapidamente resolvida com o acordo firmado entre trabalhadores e consórcio, encerrando a paralisação por volta das 17h.

Esta foi a segunda paralisação dos motoristas durante o atual governo, evidenciando a urgência de revisar o contrato de concessão do transporte público na cidade. São seis anos sem reajuste da tarifa (passaginha), embora haja um subsídio. Só para 2025, o montante alcança R$ 11.560.000,00 — valor que, segundo o consórcio, ainda não cobre a defasagem acumulada ao longo dos anos. A tarifa média de Divinópolis – considerando cartão e dinheiro – é de R$ 3,74.

Revisão do contrato

Esse cenário – sem reajuste da tarifa, subsídio, defasagem – reflete a necessidade de um reequilíbrio para garantir a qualidade do serviço prestado à população.

É imprescindível, portanto, que a administração municipal assuma sua responsabilidade e promova uma discussão séria sobre o contrato de concessão. O objetivo não é beneficiar ou prejudicar o consórcio – dando ou não mais dinheiro, mas assegurar um transporte público eficiente e justo para os cidadãos. E isso se faz com negociação transparente e comprometida, não com vídeos que viralizam nas redes sociais.

Vereadores

Os vereadores, sob a liderança do presidente da Câmara, Israel da Farmácia, demonstraram agilidade ao se mobilizar em busca de soluções. Diante da crise, desempenharam seu papel dentro das suas atribuições. Primeiro, buscaram respostas junto ao prefeito; depois, convocaram representantes do consórcio para discutir a situação.

Mostraram-se dispostos a aprovar, caso necessário e viável, um projeto autorizativo para a implementação de transporte alternativo. Embora não tenham o poder executivo nas mãos, os vereadores se empenharam em intermediar o diálogo e encontrar um ponto de equilíbrio que atendesse à população. Agora, cabe também a eles fiscalizar e cobrar medidas preventivas que impeçam a repetição desse cenário. A atuação proativa e a antecipação de crises são essenciais para evitar o caos.