Por Rodrigo Dias

Confesso, desde que comecei a trabalhar com jornalismo, há vinte anos, passei a ter certa vaidade com o meu nome. Completo, é Rodrigo Dias Chaves. Mas por uma questão de sonoridade e precisão, passei a assinar apenas Rodrigo Dias.

Faço questão de assinar assim meus artigos, poemas e crônicas. Dou a eles minha identidade e registro de propriedade. De tanto insistir nessa assinatura, é muito comum amigos e pessoas com quem me relaciono no dia a dia me chamarem pelo nome e sobrenome, ou seja, Rodrigo Dias.

A coisa pegou e fico satisfeito todas as vezes que me chamam assim. Uma vaidade tola, mas que mexe com brio. Faz bem aos ouvidos e sentidos. Mesmo com todo esse sentimento bom que sinto, dia desses me peguei pensando mais profundamente a este respeito e pensar sobre isso me inquietou.

O fato é que o nome é o comum. Já o sobrenome, na grande maioria das vezes, é o que nos distingue. É ele que confere nossa identidade e descendência ao longo dos anos, das décadas e séculos.

Numa conversa em casa fomos puxando pela memória nossos descendentes. Depois de algum tempo concluímos que eu e meus irmãos tivemos bisavôs na condição de escravos ou de escravos libertos.

O que isso tem a ver? Muita coisa, claro. Primeiro há de se considerar que os escravos aqui no Brasil recebiam os sobrenomes dos seus donos como título de propriedade.

Daí, concluo, o meu “Dias Chaves” não é efetivamente meu. Não é minha identidade direta, mas apenas indica de que famílias vieram os donos dos meus descendentes.

Pensar sobre esse prisma é frustrante, pois o sobrenome que tenho vaidade e que utilizo na minha vida profissional carrega uma herança de dor e de submissão.

Daqui a poucos dias se comemoram os 129 anos de abolição da escravatura. Muito se falará nesta data, mas para mim tudo é balela. A reflexão que ocorre em torno do dia 13 de maio é protocolar, rasa e quase sempre pautada na perspectiva do branco sobre esse fato histórico.

A meu ver, a Abolição foi o ato que desobrigou os escravocratas a não ter nenhuma dívida com os seus ex-escravos. Lançando-os ao sabor da própria sorte. Sem moradia, salário e, principalmente, sem dignidade e respeito.

Nestas bases é lógico que o preconceito imperaria, visto que criamos outro tipo de pessoas, os “subs”. São esses que moram nas periferias e favelas. Que fazem trabalho braçal e que são caricaturados pela nossa cultura como, por exemplo, o sambista, o malandro e a negra boa de cama.

Vou corrigir aqui meu raciocínio. A identidade que carrego no meu sobrenome diz muito de parte da minha ancestralidade, aqui no Brasil. Do que passou não há do que se orgulhar. É o daqui pra frente que interessa:

Minha representatividade negra, dentro dessa sociedade maluca.