Rodrigo Dias

Ninguém, em sã consciência, aprova atos de violência ou, tão pouco, de barbárie. A violência é um atentado ao indivíduo naquilo que lhe é mais próprio: a vida ou o direito de gozá-la.

Não vou contar, aqui, nenhuma novidade: não é de hoje que ato de violência deixou de ser só agressão ao físico. Talvez essa seja sua forma mais radical, mas ela acontece, sim, em outros níveis.

A inércia, principalmente por parte de autoridades constituídas, diante de atos que atentam contra a integridade física e moral de outros é, num plano muito específico, uma forma de violentar quem já está vulnerável em seus direitos.

A violência psicológica, que ridiculariza e menospreza, pode ter dores que a carne não suportaria e não é, portanto, mais branda. Mesmo que, à primeira vista, se apresentem inofensivas.

Quem subjuga ignora a dor de quem é violentado. Há pouco tempo, bullying parecia ser algo inofensivo. Muitos entendiam como uma brincadeira ou um ato normal. Quem sofria o bullying tinha que ter senso esportivo e levar tudo numa boa.

Hoje em dia, sabe-se que a história não é bem esta. Bullying virou até crime e pode dar, sim, cadeia. Na mesma linha, seguem os atos de preconceitos. O que era banal poucos anos atrás, hoje é visto como violação de direitos. Tudo passível de penalidade.

Como se percebe não é só agressão física que fere, mas também a moral e a psicológica. Neste caldeirão fervente é sempre bom considerar uma lei universal: a da ação e reação.

Nos casos de violência, os indivíduos atingidos podem optar pela submissão ou se rebelar em níveis maiores do que a própria violência que sofrem. O ódio nutrido pelo subjugador é que vai determinar a intensidade da reação.

De tudo, o que sobra como ensinamento é que cada vez mais, seja de forma individual ou num esforço coletivo, o homem tem, sim, que evitar atos de violência a pessoas ou a grupos seja lá em que nível eles ocorram.

Num olhar macro, e até mesmo considerando uma questão de humanidade dos mais desprotegidos, não dá engolir a sensibilização de líderes mundiais em torno da morte de algumas pessoas em função dos atos terroristas ocorridos recentemente na França.

Antes que seja mal-interpretado, insisto em dizer que a manifestação é justa e deve acontecer sim. Da mesma forma que todos os líderes que ficaram indignados com essa barbárie, a imprensa que reverberou o ocorrido no jornal Charlie Hebdo, e nós cidadãos comuns que ficamos perplexos com tamanha brutalidade; devíamos também nos mobilizar e nos indignar com as milhares de mortes no continente africano ou na Faixa de Gaza. Isso para ficar apenas em dois exemplos.

O mundo é um espaço em conflito, e atentados de violência pipocam em toda parte e nos mais variados níveis. Focar apenas num por uma questão midiática é atentar contra os outros que necessitam da mesma atenção e mobilização.

A violência é do homem. Assim como a boa vontade em impedir que ela ocorra.

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