Se uma das lógicas que move o capitalismo é a meritocracia – que consiste que um indivíduo deve ser compensado monetariamente, proporcionalmente ao seu esforço no desempenho de determinada tarefa ou negócio – a pesquisa divulgada ontem, 16/01, pela ONG britânica Oxfam, apontando que os oito homens mais ricos do mundo possuem tanta riqueza quanto as 3,6 bilhões de pessoas que compõem a metade mais pobre do planeta, revela que só aqueles aprenderam bem a lição.
A lista dos bilionários do mundo contempla só homens e brancos, e as oito principais fortunas do mundo vão de 75 a 40 bilhões de dólares. Se um dos grandes problemas do mundo é a concentração excessiva de riqueza nas mãos de poucos, o dado apresentado pela Oxfam ilustra bem isso.
Não deve se tirar o mérito de quem conseguiu constituir uma fortuna na casa dos bilhões. Com certeza houve esforço para que a soma fosse acumulada. Mas é bem verdade também que ninguém fica bilionário fazendo filantropia ou sendo mecenas. Uma vez constituída sua fortuna pode-se até atuar neste sentido, mas antes o mundo dos negócios pressupõe um ambiente predatório, nele só os “alfas” vencem e a caridade não é uma rotina para quem quer fazer dinheiro.
Apenas alguns serão bilionários e muito poucos poderão figurar entre um por cento mais rico do mundo. Isto porque para ser inserido neste grupo o pretendente deve acumular, em ativos, US$ 744,3 mil, ou seja, cerca de R$ 2,3 milhões.
Esquecemos então os mais ricos e os bilionários. Essas poucas pessoas, pelo dinheiro e poder que detém, conseguem proteger suas vidas e fortunas. Para bilhões de pessoas a realidade é bem diferente. A miséria e a desassistência em serviços básicos, como educação e saúde, comprometem suas vidas e das suas futuras gerações.
Algumas dessas bilhões de pessoas estão inseridas em países que historicamente foram usurpados por povos colonizadores. Tiveram riquezas e culturas dizimadas por povos, a maioria europeus, onde estão, confortavelmente, alguns desses bilionários.
Se há uma concentração de renda excessiva há também uma conta a ser paga. Os países e os homens mais ricos deveriam se esforçar, de forma mais efetiva e não apenas para efeito de marketing, para auxiliar na mudança dessa situação.
Apesar de muitos torcerem o nariz, o grande número de pobres e miseráveis mundo afora reforça a tese da necessidade da introdução de políticas de Estado, de programas sociais que assistam os desassistidos e ainda contribuam para geração de renda no entorno em que estão inseridos.
Não há como despertar outra perspectiva de vida em quem não tem o que comer, vestir ou dormir. É necessário dar o básico a quem não tem meios de obter por recursos próprios para, a partir daí, terem condições de sonhar com outras ambições na vida.
O mundo é um lugar desigual e cada vez mais tem ficado pior. Outro dado revelado pela Oxfam, curiosamente, é que em 2016 calculou-se que as 62 pessoas mais ricas do mundo detinham tanta riqueza quanto a metade mais pobre da população da Terra. Agora são apenas oito, segundo os novos parâmetros.
Se entre os abastados a situação piorou em um ano, imagine para quem é pobre ou miserável?
Por via das dúvidas, comece a juntar agora seu bilhão.