A tarde da última segunda, 08, sacudiu os meios político e jurídico do Brasil, com a decisão monocrática do ministro do Supremo Tribunal Federal, Edson Fachin, de anular os processos contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na 13ª Vara de Justiça Federal em Curitiba. Dentro do âmbito da operação Lava-Jato.

A decisão do ministro Fachin reconhece, com anos de atraso, o que a defesa do ex-presidente Lula já alertava desde o início do processo: que o ex-juiz Sérgio Moro era incompetente para julgar os casos do ex-presidente, e outros, por estarem fora da alçada da Lava-Jato que estava responsável pela análise de corrupção na Petrobras.

O mundo jurídico e, principalmente, o político, estão digerindo essa decisão do relator da Lava-Jato dentro do STF. Se no meio jurídico já há um entendimento de que a decisão de Fachin será mantida pelos seus pares tanto na 2ª Turma como no Pleno do STF, o mesmo não pode-se dizer do ambiente político.

Primeiro porque a decisão de Fachin torna Lula elegível e, portanto, apto a concorrer às eleições de 2022. Caso esse quadro se confirme, com Lula aceitando ser candidato, a temperatura vai entrar em ebulição e a polarização tende a ser absurda.

Até que isso ocorra uma coisa me é certa: a volta de Lula ao jogo político obriga Bolsonaro a dar uma guinada no seu governo. Pelas declarações e atos, o atual presidente sempre optou por fomentar a sua base na certeza de que ela seria suficiente para levá-lo a um segundo turno em 2022 e garantir sua vitória.

Com essa certeza Bolsonaro parece negligenciar pautas importantes para o país e a mais evidente é o combate à pandemia e a vacinação da população. Pautas que deverão receber um olhar mais atencioso do presidente e da sua equipe. O objetivo é resgatar a imagem de Bolsonaro, que é tido como um negacionista e vem derretendo nas pesquisas de opinião.

De agora até 2022 as regiões Norte e Nordeste – historicamente redutos eleitorais do ex-presidente Lula – vão receber mais visitas e recursos. Tudo para que o lulismo, que nos últimos anos esteve adormecido naquelas regiões, não volte a despertar com Lula na condição de elegível.

Como se vê, há muito que acontecer nos bastidores políticos de agora para frente. Se boa parte dos brasileiros estava desesperançosa com o atual governo, o fato político/jurídico de ontem pode ser algo positivo. Não porque torna Lula elegível, mas porque obriga Bolsonaro a se mexer e alinhar seu discurso e atos não só para o que anseia a sua base e sim ao que deseja o país.

Ainda muito questionado interna e externamente, o presidente terá que diminuir seu desgaste e não antecipar o palanque das eleições. Um erro de cálculo nesse momento, que já é delicado para ele, fortalece o petista.

Se os bastidores políticos foram reaquecidos com a decisão do ministro Fachin, o jurídico promete seguir o mesmo compasso. E um dos motivos é declarar a suspeição de Moro.

A decisão de Fachin acaba com essa possibilidade, mas a defesa de Lula se movimenta para garantir esse julgamento, que também é desejado pela 2ª Turma do STF e o reiniciou nesta terça.

Declarar a parcialidade do ex-juiz Sérgio Moro nos processos contra Lula é fortalecer ainda mais o discurso dos que defendem a candidatura do ex-presidente. E argumentos para isso não faltam. Muita informação está consubstanciada no conjunto de mensagens entre Moro e promotores da força tarefa da Lava-Jato. Mensagens roubadas por um hacker e apreendidas na operação Spoofing.

É a história se formando diante de nós por meio de novas estórias. É se ajeitar na poltrona e aguardar os próximos capítulos.