Maria Alice com o filho, Heitor (Foto: Arquivo pessoal)

Maria Alice estava grávida quando a Covid-19 surgiu no Brasil e teve gestação afetada por medos

As mães de primeira viagem têm uma característica que as diferença de todas as outras que também são celebradas neste domingo (9/5). Elas tiveram seus filhos em meio a uma pandemia. Medo, angústia, ansiedade e muitas outras preocupações geradas pelo risco de contaminação pelo novo coronavírus tornaram as experiências dessas mulheres em algo único.

Uma dessas mães na pandemia é a bacharel em direito Maria Alice Santos, de 32 anos, que nasceu em Oliveira e mora em Divinópolis há três, onde trabalha em um hospital. Ela conta que o desejo de ser mãe já a acompanhava há algum tempo. A tão esperada notícia veio ao fim de 2019.

“Descobri que estava grávida do meu primeiro filho. Confesso que no primeiro momento fiquei incrédula, pois pouco antes de descobrir que estava grávida recebi um diagnóstico médico que dizia que eu não conseguiria engravidar sem um longo tratamento”, conta.

Maria Alice em ensaio fotográfico da maternidade (Foto: Arquivo pessoal)

Contrariando as expectativas, a nova mãe quis viver intensamente aquele momento único. Começou a se planejar para o que viria nos meses seguintes, com o avanço da gestação. Porém, como a luta contra o novo coronavírus em países como China e Itália já ocupava cada vez mais espaço nos noticiários.

Bateu à porta da jovem mãe de primeira viagem o medo de que o vírus chegasse ao Brasil neste momento tão especial da vida dela. Foi o que aconteceu em março de 2020, quando foi registrado o primeiro caso de morte pela doença no país.

“Surgiu essa triste realidade. Algo inesperado e que mexeu com a vida de todos, sem exceção. Com o início da pandemia, tudo mudou e inclusive as minhas expectativas de ter uma gestação tranquila e sem maiores preocupações”.

A gravidez de Maria Alice foi bastante registrada (Foto: Arquivo pessoal)
A gravidez de Maria Alice foi bastante registrada (Foto: Arquivo pessoal)

A pandemia trouxe muitos medos. As informações sobre o novo vírus ainda eram pouco precisas e ninguém sabia o que poderia acontecer às grávidas e aos bebês.

“O que poderia acontecer com meu bebê se eu fosse contaminada? Grávida é grupo de risco? Corro risco de um parto prematuro? Como vou continuar trabalhando em um hospital em meio a uma pandemia? Eram muitas perguntas e poucas respostas, pois a verdade é que ninguém estava preparado para viver uma situação como esta. A sociedade não estava preparada para enfrentar uma pandemia e nem nas minhas piores expectativas imaginei passar por algo tão complicado e principalmente estando grávida”.

O médico de Maria Alice recomendou a paciente a se afastar do trabalho. Ela aceitou e se isolou em casa. Apesar do isolamento necessário, ela se sentia mal porque queria estar perto da mãe, que mora em Oliveira.

“Quando a mulher fica grávida, consequentemente ela fica mais sensível. Eu queria estar perto dos meus familiares e isso não foi possível. De repente eu me vi dentro de casa, afastada do trabalho por recomendação médica, longe dos meus familiares e longe dos meus amigos”.

Mais um dos muitos registros da maternidade (Foto: Arquivo pessoal)

Embora soubesse que era mais seguro ficar em isolamento, Maria Alice sentia solidão e até mesmo tédio, que a dominavam a ponto de ela não conseguir controlar os pensamentos negativos. A ansiedade tomou conta e gerou uma depressão.

“A gestação em meio a uma pandemia foi o momento mais difícil da minha vida. Eu precisava cuidar do meu psicológico, mas sequer tinha coragem de sair de casa para buscar ajuda de um profissional. Com o parto se aproximando, a insegurança só aumentava”.

Hora H

No dia do parto, Maria Alice não recebeu visita. Nem mesmo minha mãe pôde ajudá-la naquele momento.

“Tive o apoio do pai do meu filho, que ficou ao meu lado para me acompanhar quando o Heitor nasceu”.

Após o parto, a mãe continuou sem poder receber visita. Com isso, sentiu-se sozinha também no puerpério.

“Eu me sentia sozinha e agora tinha um recém-nascido em meus braços. Não tinha experiência e obviamente meu medo de me contaminar e transmitir para o meu filho era ainda maior”.

Heitor já está com nove meses. É um bebê saudável e a mãe atribui isso aos cuidados que teve na gravidez e que mantém na criação, como o uso de máscara, a higienização das mãos e o isolamento social.

“Não tive Covid durante a gestação e já não estou mais afastada do trabalho. Como exerço atividade laboral dentro de um hospital, já tomei a primeira dose da vacina. Mas, infelizmente, mesmo quem está vacinado pode transmitir o vírus e por este motivo ainda não consegui me libertar de todo o medo e a ansiedade que me perseguem desde o início da pandemia. É com lágrimas nos olhos que já recusei um abraço do meu filho. Por medo de contaminá-lo, evito beijá-lo”.

E assim Maria Alice e tantas outras seguem resistindo à pandemia. Cuidando delas mesmas e fazendo o que podem para não se infectarem e nem permitirem que seus filhos se infectem. Sobrevivendo. Vivendo. Sendo mães.