Entender a cultura brasileira passa, também, por entender a influência do futebol entre nós. Desde pequeno, em muitos casos, antes mesmo de nascer já torcemos ou escolhem para nós um time. Uma paixão que haverá de nos acompanhar pelo resto da vida. Influência da nossa primeira célula social: a família.

 

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A influência dos pais, tios e avós incidem sobre nós e são difíceis os casos em que se contraria uma tradição de família. Se eu sou cruzeiro, logo meu filho ou filha também será. Guardada as devidas proporções, no que se refere a termos de paixões, o futebol é pior do que a política. Para nosso azar, tem sido, em determinados casos, pior do que o crime no que se refere ao quesito violência que vem se tornando comum.

Futebol é um jogo. Passa tempo que nivela as pessoas no divertimento e paixão. Para uma meninada carente de perspectivas de vida, o futebol é, ainda, uma possibilidade de ascensão social e financeira.

O dito futebol profissional movimenta milhões e hoje é objeto de contestação por diversos órgãos de fiscalização no mundo todo. Mas existe o futebol do dia a dia. Praticado na várzea e nos campos de terra. Um futebol de pés descalços e de muita malícia e talento que durante um tempo conferiu ao Brasil título de “Pátria de Chuteiras”.

Este futebol quase perdido foi o grande homenageado na cerimônia da FIFA ocorrida na última segunda, 11 de janeiro. O gol do Wendell Lira pelo Goianésia , válido pela 9ª rodada do Campeonato Goiano de 2015, recebeu o Prêmio Puskas de gol mais bonito da temporada.

Para quem aprecia o futebol mais lúdico não haveria escolha melhor a ser feita pela combalida FIFA. Ao escolher Wendell e seu gol a Fifa olha para trás e se volta para as bases do futebol: nela o talento supera figurões e prevalece.

Atualmente, glamurizaram o futebol. Encheram-no de adereços e no meio deles fazem seus desmandos. Futebol, nos dias de hoje, tem nome composto. Abominam até mesmo os apelidos que dão mais intimidade a esta prática esportiva que é muito mais do que só trocar passes. Manipulam o futebol e quem se diverte com ele.

Com tanta interferência, o futebol perde sua essência e vem sucumbindo, ao longo dos últimos 40 anos, aos interesses políticos e econômicos. Entretenimento que encabresta.

Na minha infância, craque era aquele jogador que se consagrava por aqui e ganhava fama a ponto de ser cortejado pelas principais equipes da Europa. Hoje, o futebol mudou seu eixo e qualquer cabeça de bagre ganha destaque. Craques viraram os empresários dos jogadores que fazem fortunas com atletas medíocres.

Também nos dias de hoje, o futebol é termômetro de quantas andam a situação do país. Ao ponto, por exemplo, de jogadores consagrados pela torcida trocarem uma convocação para Seleção Brasileira pelos milhões que são pagos na China. A propósito, se o Wendell estivesse jogando num time de Terceira Divisão, lá seria mais um afortunado.

O nosso futebol? Anda órfão de talento. Dentro e fora do campo.