Capital nacional da pirotecnica, cidade do Centro-Oeste mineiro fomenta permanência de atuais e atração de novos e produtores de aves
Santo Antônio do Monte, no Centro-Oeste de Minas, é a capital nacional dos fogos de artifício porque a pirotecnia é a principal atividade econômica para os cerca de 28 mil habitantes, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Outro setor que cresce e se destaca no município, conhecido como Samonte, é o agronegócio – principalmente na indústria avícola, que abrange a criação de aves para produção de carne e ovos.
De acordo com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Samonte, o agronegócio tem crescido em vários setores. O que mais se destaca em números é o segmento avícola, que além de movimentar a economia local de forma direta e indireta por meio de venda e consumo, gera centenas de empregos, desde a produção nas fazendas até à comercialização.
Em 2023, quando Minas Gerais ocupou o quarto lugar do ranking efetivo do rebanho de aves de postura no Brasil, Samonte foi o quinto colocado entre os municípios mineiros com maiores planteis. Quanto à produção de ovos, também no ano passado o estado ocupou o terceiro lugar, enquanto a cidade ficou em quinto entre os principais municípios produtores.
Ainda de acordo com a Prefeitura, a avicultura de postura no município teve um crescimento em torno de 250% nos últimos 18 anos. Um plantel total em torno de seis milhões de aves e capacidade instalada para lidar com 12 milhões.
Samonte: Tradição no mercado avícola com carne e ovos
Grande parte da produção de Samonte sai do Aviário Diamante, que produz um milhão de ovos por dia e emprega 110 trabalhadores diretos e outros 100 indiretos. O empresário Flávio Ferrão foi um dos fundadores do empreendimento e segue à frente do negócio, no qual aposta na aquisição de tecnologias para que o alcance, que já chega a três estados brasileiros, cresça ainda mais.
“Nasci em Barra Mansa (RJ). Minha mãe é natural daqui e meu pai, de Abaeté. Eles se conheceram aqui e foram para o RJ no fim da década de 50. Meu pai era relojoeiro e depois foi para o setor de joias, relógios e óticas no estado do Rio. Nesses anos a família manteve os laços com Samonte. Vínhamos sempre que possível, como para o Carnaval ou participar de exposições”, conta.
Em 2011, com a morte do pai, Flávio foi para Samonte.
“Eu não tinha o intuito de morar aqui. Vim para fazer um empreendimento imobiliário. Quando cheguei, vi que havia oportunidades. Conheci Gisele, minha atual esposa. Casei e acabei não voltando mais para Barra Mansa e fixando residência em Samonte, costituindo familia e tudo”, detalha.
Oportunidade em meio à crise
Em 2018, quando a construção civil passava por uma crise, Flávio e dois cunhados tiveram a ideia de montar uma granja em Samonte. Eles estavam entusiasmados com o bom desempenho do negócio de um avicultor no município.
“Àquela época nós não tínhamos muita noção do quê seria isso. Montamos uma granja e a previsão era de termos 30 barracões, com 30 mil aves em cada e um total de 90 mil galinhas. Fizemos esses barracões e, quando fomos fazer as contas, vimos que não fechavam com esse volume pequeno de aves. Em vez de fazermos barracão com 30 mil, já foi de 54 mil, três meses depois de começarmos”, recorda.
Desde então o negócio só cresceu. Flávio começou a fazer mais contatos e parcerias no setor. Entrou para a Associação dos Avicultores de Minas Gerais (Avimig). Percorreu muitas granjas Brasil afora e também nos Estados Unidos.
“Vi que tinha que ter volume. Fui crescendo e conquistando mercado, com vendas para Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. Hoje a gente produz mais de um milhão de ovos por dia”.
Desafios em Samonte para o setor avícola com carne e ovos
Como em todo negócio, os desafios enfrentados pelo empreendedor são muitos, como questões sanitárias e de montagens de estruturas. Neste ano houve uma mudança no quadro societário, com os cunhados deixando o empreendimento e outros sócios entrando.
“Nosso grupo está cada vez mais forte. Enquanto no primeiro ano o empreendimento tinha 130 mil aves, hoje, depois de 5 anos, a gente tem mais de 1 milhão de aves em produção. Empenhado em crescer e atender sempre nosso cliente final, que são os supermercados de RJ, SP e MG. Então é um grande desafio, de segunda a segunda”.
Para manter o significativo crescimento, o empresário investe em alto em tecnologia.
“Nossa estrutura está completa e temos tudo automatizado. Silos de armazenagem para seis meses e todos os barracões climatizados. É tudo em ambiente controlado, o que faz com que a ave fique em uma condição adequada de luz, temperatura e água, com rações todas balanceadas e feitas na própria granja. Está tudo muito bem organizado”, conclui Flávio.
Novas apostas
Empreendimentos iniciados há menos tempo também disputam a preferência do mercado. Um deles é a Granja Agronovo. A diretora, Isabela Cabral, conta ao PORTAL GERAIS os incentivos e desafios que enfrenta.
“Venho de uma família empreendedora. Meus pais sempre me incentivaram. Conto também com o apoio do meu marido, que me incentiva, encoraja e investe em meus sonhos. Trabalhar com a avicultura de postura foi um desafio que assumi ao ver a expansão desse mercado em minha cidade”.
Estudos apontam que os ovos ocupam o quinto lugar no ranking das proteínas mais consumidas do mundo, ficando à frente até mesmo dos bovinos, e o segundo alimento mais rico em proteínas.
“Samonte tem nesse setor diversos empresários, investidores e observando esse crescimento, meu primeiro objetivo foi estudar e entender o mercado. Com base nos estudos, iniciamos a Agronovo no ano de 2020 e a cada ano estamos investindo em certificação, qualificação e, cada vez mais otimistas com a evolução do trabalho”, destaca Isabela.
Apesar de a avicultura ser um negócio com etapas bem específicas, como a alimentação das aves e a colheita dos ovos, os avanços tecnológicos fazem com que a nova geração de produtores precise passar pelo desgaste físico que afligia os trabalhadores do campo.
“A rotina porteira para dentro é intensa, porém gratificante. Optamos por um sistema totalmente automatizado. Mas, o coração da Agronovo está na mão de obra humana, onde nossos colaboradores fazem tudo acontecer”, pontua Isabela.
Para a empresária, é preciso investir nos sonhos, investir e acreditar na força da mulher no agronegócio.
“Hoje nossa equipe é formada por 60% mulheres que estão entregando um belíssimo trabalho. Vivemos um dia por vez na fazenda e todos os dias temos a oportunidade de aprender e crescer e contribuir para desenvolvimento da avicultura em nossa cidade”, conclui Isabela.
Granjas buscam SIF para crescer
Samonte tem 50 estabelecimentos avícolas. Desses, 46 produzem para corte e quatro são destinados a ovos e produziram 30 milhões de unidades no ano passado. Dessa meia centena de granjas, 17 já possuem a certificação Serviço de Inspeção Federal (SIF), que permite a comercialização do produto em todo o território nacional além da exportação.
“Conseguir esta certificação é algo que exige imensos investimentos e adequações às normas, inclusive ambientais”, detalha a Prefeitura ao PORTAL GERAIS.
Network com Governo Federal
Com o notório crescimento do setor de avicultura, a Prefeitura de Samonte busca formas de evitar que o ritmo diminua. Uma das estratégias é o contato com o Governo Federal em busca de ações para fomentar o setor e promover o desenvolvimento sustentável e econômico local.
No dia 13 de novembro, o secretário de Desenvolvimento Econômico, Marcello Faria, e a secretaria de Meio Ambiente, Isabela Garibaldi, se reuniram virtualmente com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. A pauta foi o credenciamento e exportação dos produtores locais.
“É um setor em franco desenvolvimento. Ao longo dos últimos 18 anos, tivemos um crescimento em torno de 250% em termos de tamanho de plantel e produção de ovos localmente, tornando-se um motor econômico para o município. Desejamos criar condições para que o setor seja cada vez mais robusto, tenha maior sustentabilidade financeira e uma projeção de longo prazo de crescimento e consolidação de suas atividades aqui”, afirma Marcello Faria.
Para que os planos se consolidem, diz o secretário, a parceria com o Governo Federal é fundamental.
“Pensamos em dotar nossas empresas de uma habilitação sanitária robusta a nível nacional, que é o Selo de Inspeção Federal (SIF), um pré-requisito para exportação. Uma vez que a empresa local a obtém, isso também abre condições para que ela comercialize. Estamos animados, otimistas com a receptividade aos nossos projetos e vamos seguir em frente”, enfatiza.
Durante a reunião foram citados países que já estão abertos, em termos sanitários, para exportações de ovos. O Ministério da Agricultura pontuou ações de qualificação necessárias para as empresas produtoras, tanto para exportação quanto para adequação sanitária. Também foram discutidas atividades de promoção comercial internacional das quais as empresas locais poderiam participar.
Potencial de crescimento do setor avícola com carne e ovos em Samonte
Para o prefeito de Samonte, Leonardo Lacerda Camilo (PSD), a consolidação do objetivo a nível federal poderá tornar o município em um grande exportador.
“Nossa cidade está entre as maiores produtoras de ovos do estado de Minas Gerais, com um plantel de aproximadamente 6 milhões de aves e uma produção de ovos que cresce a cada ano. Essa é uma pauta muito importante para o desenvolvimento econômico local e vamos trabalhar para que os nossos produtores estejam alinhados aos objetivos necessários para abertura de novos mercados”, pontua.