Qual a grande revelação dos donos e executivos da empreiteira Odebrecht no âmbito da operação Lava Jato? Acho que, do ponto de vista prático, é quase nenhuma. Isso porque não é novidade para o brasileiro mais consciente que a política pressupõe ligações perniciosas entre quem tem poder. Os conchavos, esquemas, existem aqui desde sempre e dissociar estas práticas, entre outras mais, é tão difícil como separar água e óleo.

Em entrevista ao jornalista Alexandre Garcia, o ex-ministro do STF Carlos Ayres Britto resumiu bem o perfil do político, sobretudo dos congressistas, quando disse que o que ocorre hoje é uma teatralização da representação pública exercida pelos políticos.

Em outras palavras, Ayres Britto diz que há uma encenação em que os políticos são eleitos para representar o povo, mas se curvam aos interesses econômicos e passam a legislar ou governar atendendo interesses de grupos seus ou que representam.

Se o Brasil há tempos deixou de ser colônia, existe uma casta que ainda insiste em lidar com os interesses políticos como se estivesse no século passado ou retrasado.  Quer a manutenção dos esquemas e mesadas.

Com a pluralidade de políticos e partidos conditos na divisão de propina mantida pela empreiteira Odebrecht, é difícil não dizer que a corrupção na política brasileira não seja sistêmica. Ou seja, não é uma particularidade de um único partido, mas existe em todas as legendas. Da esquerda à direita.

Um sistema tão sofisticado que conta até com o trabalho de prospecção de novas lideranças políticas que se mostrem promissoras para assumir cargos de destaque no governo ou congresso. Entenda-se promissora como tendo influência, trânsito em vários órgãos e grupos além, é claro, de ter respaldo da população. Estes eram aliciados e entravam no esquema.

E por falar em esquema, o que dizer dos que são seduzidos pelos holofotes? Aqueles que detêm o poder na mão, mas que sucumbem a prêmios, manchetes e fotos de jornais. Quando não viram jagunços, se transvestem de pop star e o poder sobe à cabeça. Entorpecidos, viram marionetes nas mãos de quem tem mais poder que eles.

A política brasileira é tal qual a traição conjugal. Todas as partes sabem da infidelidade, mas por conveniência optam pela convivência de aparência. A diferença é que os casos agora são mais frequentes e não há silêncio e resignação que abafe a traição exposta com todas as suas vísceras.

A solução? Seja lá qual for será de longo prazo. Isso porque ela está relacionada a uma melhor escolha na hora do voto. Um melhor preparo do político que não faça dessa função ofício e uma melhor organização – advinda da reforma política – que diminua os riscos de o poder econômico aliciar o político e vice e versa.

O mar de lama que se vê no noticiário político está só no início. Há muito a ser exposto, ainda. Um exercício que causa náuseas ao cidadão de bem, cuja política há tempos não está a sua altura.

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