“A “liberdade” em demasia e a falta de limites em abundância. A normalização de tudo. Afinal, onde estamos errando?”

Assim, como todos os dias, quando deixo minha filha na escola, é como se uma parte de mim ficasse por lá, em pensamento. Acredito que seja desta forma com a maioria das mães. Com o tempo a gente aprende administrar esses sentimentos e vai ficando mais fácil.

Hoje, em especial, foi difícil “dar tchau”. Uma mistura de angústia e medo despertado, mais uma vez, pela atrocidade que assistimos em Blumenau.

Quatro vidas arrancadas abruptamente de famílias. Quanta dor causada pela maldade humana. Não há surto psicótico que explique, justifique ou amenize.

Massacres como este têm se tornado menos incomuns e desnuda uma sociedade cada dia mais doente. Os discursos extremos de ódio e intolerância alimentam todo esse desequilíbrio e maldade.

As “perfeições” floreadas pelas redes sociais. As telas em excessos e precocemente inseridas no cotidiano das crianças. O submundo da internet. A terceirização da educação. Pais mais afastados e fragilidade da relação.

A “liberdade” em demasia e a falta de limites em abundância. A normalização de tudo. Afinal, onde estamos errando?

Estamos invertendo a ordem, onde alunos e professores terão que viver confinados entre cercas, câmeras de segurança, enquanto o perigo anda livre, pulando muros e aniquilando vidas.

Ou pior, recrutando adolescente e jovens introvertidos, muitas vezes vítimas de violência, em busca de uma vingança descabida da sociedade pelos males que os oprimem.

Não podemos despejar sobre os pais toda a responsabilidade. Há condições que possibilitam ainda mais essa violência e é preciso falar sobre elas.

Precisamos falar sobre a regulação das plataformas, rediscutir a cultura do armamento, a impunidade para crimes cibernéticos, políticas públicas dentro das escolas que promova diálogo, a cultura da paz, com acompanhamento de psicólogos.

Embora, as escolas tivessem que ser um ambiente livre de violência, vemos, estarrecidos, que não é. Por isso, é preciso investir em segurança. Meios que aniquilem as possibilidades de novos ataques ou que, no mínimo, dificulte ao máximo a ação desses criminosos.

Não podemos permitir que isso se torne um hábito trágico. Dizemos adeus a uma professora e, agora, nos despedimos, em choque, de quatro vidas que tinham apenas começado. Sem explicação! Só dor!

Como mãe, compartilho a tristeza e choro junto com essas famílias. Ao mesmo tempo, reflito desesperadamente sobre o futuro, tentando buscar o equilíbrio entre a proteção e a liberdade.

Criar filhos nunca foi fácil, assim como nunca foi tão difícil. Afinal, nos dois extremos há mães que choram.